Obras
From the series "Anton's hand is made of Guilt. No muscle of Bone. He has a Gung-ho finger and a Grief-stricken Thumb" [Da série "Anton's hand is made of Guilt. No muscle of Bone. He has a Gung-ho finger and a Grief-stricken Thumb"]
photography


Data
2023
Técnica
Provas cromogéneas montadas em alumínio
Dimensões
60 x 40 cm (x3)
Esta obra faz parte de um projeto de investigação que teve como base um acontecimento real: a morte de um amigo, o fotojornalista Anton Hammerl, durante a guerra civil na Líbia, em 2011. As circunstâncias que rodearam o seu desaparecimento, bem como a ausência de informação e de quaisquer vestígios (o corpo não foi encontrado; não houve depoimentos ou provas oficiais), estimularam Edgar Martins a iniciar uma pesquisa que, enraizada na reconstituição do percurso de Anton, constitui também uma reflexão sobre o papel e a ética da fotografia documental em situações de conflito, luto e trauma.
A investigação desenvolveu-se em várias frentes, incluindo incursões pelos meandros da internet encriptada (a - dark web
) e viagens ao norte de África, pelos locais percorridos por Anton. Ao longo do processo, Edgar Martins acabou por se cruzar com várias pessoas que estiveram envolvidas no conflito líbio, e com outras que, não tendo experienciado diretamente os horrores daquela guerra, sofriam com o seu impacto e consequências. Desses encontros, em que eram partilhadas histórias em sessões quase catárticas, resultaram vários registos desenhados e fotográficos.
Consciente dos limites da investigação e da distorção dos resultados devido à precaridade dos testemunhos e da própria memória (individual e coletiva), Edgar Martins optou por desenvolver um trabalho que alia a captação do real ao registo de situações encenadas que interpretam ou enfatizam essa mesma realidade - é o caso deste triplo retrato. O recurso a diferentes estratégias de representação visual, num jogo entre a documentação e a criação, dá o mote para questionar as dinâmicas de poder entre o fotógrafo e o sujeito, e para interrogar o papel do fotojornalismo quer como instrumento de deturpação (inadvertida ou não) dos acontecimentos, quer como meio que muitas vezes contribui para uma certa estetização do horror.
Joana Baião
A investigação desenvolveu-se em várias frentes, incluindo incursões pelos meandros da internet encriptada (a - dark web
) e viagens ao norte de África, pelos locais percorridos por Anton. Ao longo do processo, Edgar Martins acabou por se cruzar com várias pessoas que estiveram envolvidas no conflito líbio, e com outras que, não tendo experienciado diretamente os horrores daquela guerra, sofriam com o seu impacto e consequências. Desses encontros, em que eram partilhadas histórias em sessões quase catárticas, resultaram vários registos desenhados e fotográficos.
Consciente dos limites da investigação e da distorção dos resultados devido à precaridade dos testemunhos e da própria memória (individual e coletiva), Edgar Martins optou por desenvolver um trabalho que alia a captação do real ao registo de situações encenadas que interpretam ou enfatizam essa mesma realidade - é o caso deste triplo retrato. O recurso a diferentes estratégias de representação visual, num jogo entre a documentação e a criação, dá o mote para questionar as dinâmicas de poder entre o fotógrafo e o sujeito, e para interrogar o papel do fotojornalismo quer como instrumento de deturpação (inadvertida ou não) dos acontecimentos, quer como meio que muitas vezes contribui para uma certa estetização do horror.
Joana Baião