Heavy Metal


2024
Meteorito de ferro Gebel Kamil (proveniência: Al Wadi al Jadid, Egito, 2009 (276,07 g) – IMCA#2093 – GMA #0052), meteorito de ferro Gebel Kamil (proveniência: Al Wadi al Jadid, Egito, 2009 (341,27 g) – IMCA#2093 – GMA #0052), (2x) Flyht Pro Rack 20U Slide Shock (modificado), (2x) placas magnéticas, monitor de palco 800W, som (“Summertime” de George Gershwin tocado em Theremin com meteoritos de ferro (um em cada mão), em loop contínuo)
Dimensões variáveis
Improbabilidade, entropia e anacronia são algumas das características que mais consistentemente permeiam a obra plástica de Henrique Pavão (Lisboa, 1991) e das quais o conjunto de obras HEAVY METAL e It’s not going to stop são uma complexa demonstração. Convocando uma série de simbologias divinas e históricas, o artista reflete sobre a condição do falhanço, da impermanência, da mística do som e dos objetos celestes.
Tomando como matéria-prima a sacralidade dos dois meteoritos que encerram a instalação, Pavão exerce uma espécie de retorno simbólico ao recolhê-los e posicionando-os no interior de duas caixas de transporte aéreo de sintetizadores para concertos, ora adaptadas para vitrines museológicas. A par desta reorganização espacial (cuja determinação metafórica, aliás, se multiplica e desdobra em variadíssimos eixos), o artista devolve a estes metais-celestes a possibilidade de vida e comunicação através da reverberação magnética do seu próprio corpo (resquício último da sua identidade e origem) quando em contacto com um theramin. Utilizados nas mãos de uma instrumentalista, os objetos tocam em loop um eco vagamente distorcido e melancólico de Summertime, de Gershwin, projetado através de uma coluna de palco cujo propósito factual é devolver aos músicos o som que emanam em concerto (como que sussurrando para si próprios). Miticamente reconhecida como a canção de embalar de Porgy and Bess (1935), o arranjo musical é, simultaneamente, uma das primeiras composições a serem selecionadas para enviar para o espaço (no contexto da Teen Age Message) e, por sua vez, uma das mais reproduzidas em todo o mundo—reiterando a circularidade formal do dispositivo e do propósito de destruição/devolução cósmica presente no conjunto total da obra.
Espetadores da sua própria destruição, os meteoritos são assombrados pela imagem de um sapo que sobre eles contempla este elogio fúnebre em perpétuo movimento. Referenciando a sequência da chuva de sapos no filme de Paul Thomas Anderson, Magnolia (1999), bem como a velha parábola bíblica do Antigo testamento, Êxodo 8:2, a impressão fotográfica It’s not going to stop parece recordar a aceção egípcia no que respeita a simbologia do sapo enquanto imagem que acompanha um corpo na sua viagem pós-morte—aqui sugerindo uma continuidade vital, ou talvez até mesmo uma promessa de ressurreição.
Eva Mendes
