A obra de Antonio Ballester Moreno incide numa relação estreita entre biologia e cultura, para além de partilhar um conjunto de características com as vanguardas históricas, filiadas na abstração. São claras as afinidades com o fauvismo, o surrealismo, a abstração construtivista, a geométrica e a biomórfica e espreitam, muitas vezes, Matisse, Miró, Arp ou Caro, integrados por uma leitura simbólica. A cor, com preferência pelas cores primárias e secundárias, é aberta e lisa, sendo investida de sentidos simbólicos, quando não mesmo cósmicos, à semelhança da forma, reduzida a figuras geométricas elementares e a desenhos simples. Quanto aos materiais, variam entre materiais industriais, como o aço e o ferro, e materiais artesanais, associados a culturas populares diversas que extravasam a geografia ocidental. A estes dados, acresce um interesse pelos domínios da espiritualidade e da natureza que aproximam o trabalho do artista ao projeto da Escuela de Vallecas, surgida em Espanha na senda do cubismo e do surrealismo.

A escultura - Luna y Sol (negativo)
de 2022 é, a este respeito, bastante representativa da prática de Ballester Moreno, para além de sintetizar as principais premissas exploradas na exposição individual “10h”, realizada em 2022: a conceção do tempo, perante a passagem do dia à noite e vice-versa, tal como a perceção destes fenómenos, é sempre um dado relativo, dependente de cada pessoa. Se as formas recortadas desta escultura em aço, tornadas símbolos, apontam para uma certa leitura universal; a coexistência da lua (elemento preto com forma de quarto de lua) e do sol (elemento verde quadrado) na mesma composição, vem justamente lembrar que a perceção do dia e da noite depende da posição do sujeito, e, nessa medida, das coordenadas culturais e sensitivas que o enquadram.



Sofia Nunes