Maria Helena Vieira da Silva ganhou destaque na designada Segunda Escola de Paris, cidade onde residiu a maior parte da sua vida. Foi a artista portuguesa que mais cedo consolidou vasto reconhecimento internacional, com obra representada nas mais relevantes coleções de todo o mundo e com museu dedicado (também ao seu marido, o artista Arpad Szenes) em Lisboa, a Fundação Arpad Szenes - Vieira Silva.
Atenta à realidade que a envolvia, Vieira da Silva teve desde muito cedo uma postura artística ativa. A sua obra revela uma esfera temática de forte pendor urbano e histórico-político, engajada e em diálogo com os acontecimentos do seu tempo. É o caso da pintura Maio de 68, criada na época da contestação de teor político-social que despoletou na Universidade Paris-Nanterre e se espraiou por toda a França, com eco e réplicas além-fronteiras.
O movimento Maio de 68 tornou-se símbolo da luta estudantil em defesa de uma mudança de mentalidade e renovação de comportamentos e valores. Vieira da Silva conviveu com esses eventos e esta é uma obra ícone dessa época, em que a artista interpreta a energia, tensão e expectativa desse momento numa linguagem pictórica expressiva e gestual que a caracteriza. O espaço da tela é explorado verticalmente na totalidade, por uma estrutura métrica horizontal composta por traços irregulares, escorrências e manchas de cor que desenvolvem uma composição abstrata, de pendor geométrico e rítmico. A paleta de cores sépia e ocre é trabalhada de forma ascendente, irradiando uma crescente luminosidade na parte superior da composição. A gramática lírica e poética desta obra pictórica traduz de forma singular a abertura proposta pelo movimento do Maio de 68 e confiança no seu triunfo.
AG