O trabalho de Gabriela Albergaria parte da consciência de que a natureza é uma construção artificial e cultural, resultado da intervenção humana na paisagem ao longo de milénios. Questões relacionadas com a circulação, manipulação e domesticação de espécies vegetais para fins de subsistência e lúdicos (agricultura, jardinagem, arquitetura paisagística) são exploradas em pesquisas que cruzam a experiência sensorial individual com os procedimentos da investigação científica. Operando sempre a partir de territórios existentes (ecossistemas e locais específicos cuja identidade foi produzida ou afetada pela ação do homem), Gabriela Albergaria desenvolve um trabalho em que a metodologia é fulcral: a artista visita o espaço, procede ao seu registo através do desenho ou da fotografia, recolhe alguns elementos; no seu estúdio, trabalha a partir da memória, dos vestígios recolhidos, da documentação e da investigação, podendo desenvolver várias obras com base num único referente.

Na sua reflexão acerca das relações entre o mundo natural, o homem e a cultura, os jardins e parques são um tema recorrente: ambientes historicamente relacionados com o lazer e o estudo, eles são a manifestação da natureza transportada, transformada, estudada, hierarquizada, catalogada, estetizada e até ficcionada. Em Parc Malou 15.31.16 – referência ao maior e mais antigo parque público da região de Bruxelas – osprocessos de aculturação da paisagem são evocados através de uma construção díptica em que fotografia e desenho se contrapõem e complementam como processos de registo e perceção da realidade (ou da sua aparência). Através desta dicotomia, a artista alia a observação analítica à sua experiência subjetiva e psicológica perante a natureza, e reforça a aceção de que o “natural” é sempre algo construído – um sistema de representação social e cultural que é coletivo, mas também individual.

Joana Baião

Mapa de Lisboa, Cidades Invisíveis

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