Preto e Branco
painting


1969
Óleo sobre tela
- 99,5 x 130 cm100 x 130,5 cm
Tendo integrado, por um breve período, o meio surrealista português, a pintura de Manuel D'Assumpção viria a aproximar-se da Abstração da Escola de Paris.
A sua partida para esta cidade, em 1947, permitiu-lhe estudar pintura com Fernand Léger e história da arte com Jean Cassou. Nalgumas das suas abstrações, nas quais inclui arquiteturas fragmentadas, as afinidades com Alfred Manessier ou Roger Bissière são notórias. Todavia, nas suas composições, a estas características alia-se um sentido musical e rítmico resultante do entretecer de camadas e da sugestão de movimento.
Neste óleo datado do mesmo ano da sua morte, Manuel D'Assumpção cria diversos níveis de profundidade através da justaposição de várias superfícies de tons contrastantes. Os planos azuis laterais, relativamente simples, são sobrepostos por planos progressivamente mais elaborados em direção ao centro, o qual adquire a primazia de um primeiro plano destacado. A recorrência de círculos e de fragmentos desta forma geométrica adensa-se no centro da composição, criando um efeito texturado da superfície pictórica. A neutralidade dos planos de fundo cede a formas imbrincadas de estilhaços que, todavia, parecem manter uma certa ordem de gravitação em torno de núcleos agregadores.
A opção por uma gama cromática de tonalidades intensas — vermelhos, rosas, azuis, brancos nacarados — tornam o título enigmático. Em algumas das suas obras perpassa a dimensão espiritual com que Manuel D’Assumpção abordava a criação artística. Este óleo pode ser um desses exemplos.
Luísa Cunha