RHB-07-2002
painting


2002
Óleo sobre tela
280 x 350 cm
Frank Nitsche (Alemanha, 1964) é um dos principais representantes da abstração pós-moderna alemã. Ligado à escola de pintura de Dresden, as suas obras são inspiradas por um arquivo imaginário de imagens, cuja tradução e apropriação se torna o ponto de partida para a prática artística. Algumas imagens chegam à tela por desígnio, outras por acaso. A sua importância varia e transforma-se ao longo do tempo. O que chega à tela num determinado momento como sendo de grande relevância pode, numa fração de segundo, ser sujeito a repintura ou desaparecer completamente debaixo de múltiplas camadas de tinta – sob fragmentos de outras imagens cuja hierarquia e relevância estão em permanente mutação.
Integrada numa série de trabalhos iniciada em 2002, caracterizada pela deformação de elementos arquitetónicos, a obra enfatiza a sua planura, esbatendo o espaço euclidiano mediante uma conjunção de perspetivas heterogéneas. RHB-07-2002 (2002), como a maioria das pinturas de Nitsche, é permeada por um conflito entre a exatidão geométrica e a espontaneidade do processo pictórico. Executada sem desenho ou esboço prévio, a pintura resulta de um longo processo de impulsos espontâneos entrecortados por períodos de suspensão. No entanto, apesar do imediatismo da abordagem pictórica, a forma final, reminiscente de um desenho técnico complexo, é hermética, criando tensão entre o processo pictórico e a forma final da obra. Definida por linhas estruturais, intersecções e intervalos, a pintura em apreço tem as suas raízes firmemente ligadas à abstração. A composição semifigural que alude a um rosto e respetiva aparência sintética suscita, no entanto, uma forte sensação de ambiguidade, permitindo um vasto leque de interpretações que vão desde o construtivismo russo até uma estética próxima do desenho animado, criando através desta multiplicidade um comentário silencioso sobre a política de produção e consumo da imagem contemporânea.
Markéta Condeixa