Paula Rego é a mais internacional e aclamada pintora portuguesa em atividade. Residente em Inglaterra, tem dupla nacionalidade, e é considerada entre os maiores pintores da atualidade neste país. Artista de forte personalidade, Paula Rego criou uma linguagem gramatical que se inscreve na nova figuração da segunda metade do século XX, com temáticas, vasta iconografia e técnicas pictóricas que caracterizam e atribuem identidade exclusiva à sua obra.

É o caso da pintura em análise, a segunda da série “The Knight, the Lady and the Priest”, que de modo equívoco chegou anteriormente a ser classificada como pertencente à série “Vivian Girls” que a sucede. Ambas as séries apresentam bastantes semelhanças formais, compreensíveis de gerar confusão num primeiro olhar, dada a proximidade das figuras femininas e dos seres animais e antropomórficos. Porém, o cromatismo é bastante distinto, sendo a paleta da série “The Knight, the Lady and the Priest” bastante mais contida, com um predomínio intenso do vermelho em planos de fundo complementado por outra cor, verde no caso desta pintura, ressaltando os contornos e algum preenchimento a preto. As inúmeras figuras em várias escalas e diferentes orientações, desenhadas com forte contorno e vazadas no fundo branco, encontram-se distribuídas de forma dinâmica e desconcertante por todo o suporte.

A série em causa começou a ser pintada em 1983 no Berry Street Studio de Paula Rego e foi inspirada no livro de Georges Duby, “O Cavaleiro, a Dama e o Sacerdote - a realização do casamento moderno na França medieval” de 1981, que aborda a instituição do casamento e a moral matrimonial. Nesta pintura, a figura feminina central recusa-se a segurar uma vassoura oferecida por uma figura esquelética oculta, as restantes micro-narrativas revelam cenas de mulheres aprisionadas, seres demoníacos e assustadores, num ambiente de medo, violência, angústia e sofrimento. Paula Rego explora, no seu estilo muito próprio, uma temática transversal ao seu percurso que aborda a tensão doméstica forjada nas expectativas conjugais.

Adelaide Ginga

The Only Other Point [O único outro ponto]

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