Oito anos antes da Balkan Erotic Epic, Marina Abramovic recebeu o Leão de Ouro de Melhor Artista na Bienal de Veneza de 1997 pela sua instalação em vídeo-performance Balkan Baroque. Nessa peça, a artista sérvia assumiu uma posição explícita contra a desmesura e o horror das guerras, apontando especialmente para os conflitos armados jugoslavos que ainda estavam a desenrolar-se na altura (1991-2001).
Após a descida aos mundos de Thanatos, Abramovic emerge e explora o campo complementar do Eros e da sexualidade sagrada no contexto dos rituais pagãos tradicionais dos Balcãs. Ligados à fertilidade, virilidade, desejo feminino e resolução coletiva dos problemas das aldeias, esses rituais, cheios de atos simbólicos e pensamento mágico, existiam pelo menos desde a Idade Média até há pouco tempo. Em simultâneo com as legendas das fotografias, o conjunto consiste em sete vídeo-instalações em que a artista, vestida com trajes folclóricos tradicionais, juntamente com atores amadores, recria ritos místicos carregados de erotismo sob um céu nublado ou debaixo de chuva. No filme de Pierre Coulibeuf de 1999 sobre a vida e o universo de Abramovic, ela pronuncia esta sequência de palavras: "fotogénica, antropologia, sexo, religião, mercado de arte". Essas ocorrências são aqui reunificadas para criar uma peça onde as energias masculina e feminina são expressas sem restrições ou inibições e aparecem intimamente ligadas à terra.
Considerando o quanto foi afetada pelas destrutivas guerras étnicas entre bósnios, croatas e sérvios, não é por acaso que Abramovic traz de volta à vida os criativos ritos coletivos desta região. Assim, ao longo da história e nas suas muito diversas formas, a transe tem proporcionado efeitos catárticos benéficos de cura e uma proteção contra explosões de violência.
KS