Dordio Gomes (Arraiolos, 1890 – Porto, 1976) frequentou a Academia de Belas Artes de Lisboa entre 1902 e 1910, onde teve como mestre de pintura Veloso Salgado. A paleta sóbria das suas primeiras obras revela ainda a influência de Columbano Bordalo Pinheiro. Em 1910, graças à bolsa do Legado Valmor, parte para Paris com o escultor Francisco Franco onde frequenta a Academia Julian e as aulas de Jean-Paul Laurens. No ano seguinte, regressa a Arraiolos onde permanece dez anos. Durante esta fase, a sua produção manteve-se essencialmente marcada pelo naturalismo tradicional e pela influência de Columbano. O ano de 1921, contudo, marca o início de uma fase determinante na sua obra. Renovada a bolsa, parte uma vez mais para Paris, até 1926. Além de frequentar a Escola Nacional de Belas Artes de Paris e o atelier de Ferdinand Cormon, fomenta o contacto com novos movimentos internacionais, frequentando tertúlias com outros artistas portugueses, à data em Paris. Esta cosmopolitização do seu meio refletiu-se num carácter moderno da sua obra, marcada por um tratamento cézanniano da cor e das formas, particularmente, na acentuação dos volumes e dos planos. Datam desta fase algumas das suas obras mais céleres (Casas de Malakoff, 1923, e Auto-retrato da natureza morta, 1924). Nesta estada em Paris, viajou ainda por outras cidades europeias, destacando-se um período de oito meses em Itália, onde estudou a pintura renascentista dos antigos mestres. Regressado ao Alentejo, retoma temáticas regionalistas, mantendo o traço moderno e a influência de Cézanne. Em 1934, mudou-se para o Porto como professor de pintura da Escola Superior de Belas Artes. Tomando as paisagens do Norte e, particularmente, o rio Douro como temas prediletos, abandonaria a expressão modernista, adotando tons e contrastes mais suaves. Participou em diversas exposições, como as anuais da Sociedade Nacional de Belas Artes, a famosa exposição 5 Independentes (1923) e o I Salão dos Independentes (1930), recebendo em 1938 o Prémio Columbano e, em 1945, o Prémio António Carneiro. No estrangeiro, participou nas Exposições Internacionais do Rio de Janeiro (1922) e de Paris (1937), na XXV Bienal de Veneza (1959) e nas Bienais de S. Paulo (1951, 1953 e 1955). Está representado em várias coleções públicas e privadas.
FMV, outubro 2020
FMV, outubro 2020