Obras
As Três Graças
painting


Data
1930
Técnica
Óleo sobre tela
Dimensões
91 x 72 cm
Pintada pouco tempo depois do segundo regresso de Paris de Sarah Affonso, em 1929, esta obra constitui, pela temática abordada, um caso único na sua pintura, regra geral mais dedicada ao retrato.
Abordando o tema com singular síntese de meios, do fundo plano e sem história, é no desenho das figuras que tudo se passa. Apesar dos rostos estilizados, Sarah individualiza-as e dá-nos, além disso, a perceber a sua extrema juventude, corroborada pelo aspeto púbere dos corpos. Talvez por isso, ao contrário das representações tradicionais das três Graças, tanto quanto se sabe o único tema mitológico do repertório da pintora, Sarah coloca as suas três jovens de frente para o espectador, sem qualquer tensão entre elas. Nenhuma delas parece tentar ser escolhida em vez das outras. Pelo contrário, existe antes uma harmonia em torno da maçã que era suposto causar a discórdia. Esta, colocada no centro da composição, ao nível do coração, torna-se o pomo da concórdia, o eixo que é preciso descobrir e o elo que une as três.
Mais do que três sedutoras que tentam captar o olhar masculino, as três graças de Sarah Affonso não posam para um espectador. O pudor que manifestam (ao manter coberta a zona púbica) é o da consciência da sua nudez, como Adão e Eva depois da dentada na maçã. Elas estão só nessa descoberta e por isso não procuram também o nosso olhar.
A assunção dessa descoberta, do momento em que três meninas passam a mulheres e passam a ter consciência da sua própria identidade física, é corroborada pela presença da macieira atrás delas.
Abordando de modo inovador um tema clássico, mitológico, esta obra de Sarah pega no cânone para o debater, oferecendo uma perspetiva feminina que ultrapassa a oferta do corpo próprio para o olhar do outro, evidenciando antes o modo como o corpo é sobretudo campo de descoberta para o eu.
EF
Abordando o tema com singular síntese de meios, do fundo plano e sem história, é no desenho das figuras que tudo se passa. Apesar dos rostos estilizados, Sarah individualiza-as e dá-nos, além disso, a perceber a sua extrema juventude, corroborada pelo aspeto púbere dos corpos. Talvez por isso, ao contrário das representações tradicionais das três Graças, tanto quanto se sabe o único tema mitológico do repertório da pintora, Sarah coloca as suas três jovens de frente para o espectador, sem qualquer tensão entre elas. Nenhuma delas parece tentar ser escolhida em vez das outras. Pelo contrário, existe antes uma harmonia em torno da maçã que era suposto causar a discórdia. Esta, colocada no centro da composição, ao nível do coração, torna-se o pomo da concórdia, o eixo que é preciso descobrir e o elo que une as três.
Mais do que três sedutoras que tentam captar o olhar masculino, as três graças de Sarah Affonso não posam para um espectador. O pudor que manifestam (ao manter coberta a zona púbica) é o da consciência da sua nudez, como Adão e Eva depois da dentada na maçã. Elas estão só nessa descoberta e por isso não procuram também o nosso olhar.
A assunção dessa descoberta, do momento em que três meninas passam a mulheres e passam a ter consciência da sua própria identidade física, é corroborada pela presença da macieira atrás delas.
Abordando de modo inovador um tema clássico, mitológico, esta obra de Sarah pega no cânone para o debater, oferecendo uma perspetiva feminina que ultrapassa a oferta do corpo próprio para o olhar do outro, evidenciando antes o modo como o corpo é sobretudo campo de descoberta para o eu.
EF