Obras

As Três Graças

painting
As Três Graças
As Três Graças
© MACAM
Data

c. 1930

Técnica

Óleo sobre tela

Dimensões

162,5 x 129 cm

Embora não datada, esta pintura de Francis Smith (também conhecida como Mulheres no Jardim) aponta para a sua produção retratística de cerca de 1915-20 (de acordo com o historiador Jorge Gonçalves da Costa), sendo muito provavelmente já depois de 1917, data em que o artista e a mulher se mudaram para uma casa em Montmartre, dotada de um jardim, ao fundo do qual Smith tinha o seu atelier (Costa, 2021,36).
Sem relação com a estória mitológica das Três Graças (além do presente título, claramente uma evocação literária), a composição mostra três jovens mulheres num recanto verde do jardim do artista.
De acordo com o investigador Jorge Gonçalves da Costa, autor da mais completa investigação até hoje realizada sobre Smith (Francis Smith 1881-1961. Em busca do tempo perdido, MNAC/Tinta da China, 2021), esta obra representa três das quatro filhas de Thaddeus Natanson (1868-1951). Contudo, testemunhos da família de Smith afirmam tratar-se das filhas de Aleksander Natason (1866-1936), sublinhando que a jovem representada à direita da composição, com uma peça de tricot, é a arquitecta e designer francesa Bolette Natanson (1892-1936).
Os irmãos Thadeus, Aleksander e Ludwink-Alfred Natason, intelectuais judeus, de naturalidade polaca e desde cedo radicados em França, são incontornáveis referências culturais na Paris destes anos. Co-fundadores da famosa publicação artística e literária francesa Revue Blanche, publicada entre 1889 e 1903, com a qual colaboraram nomes relevantes da cena artística e literária francesa, como Marcel Proust, a encomenda deste retrato testemunha a relação de Smith com o meio da inteligentsia francesa.
A afirmação de espaço privado nesta pintura é sustentada pela presença da mesa com toalha debruada a renda, em que repousam um prato com fruta (citação de natureza-morta) e um elegante solitário no qual uma jovem coloca uma camélia. A aproximação, do fundo da composição, de uma outra figura feminina (porventura uma criada, a avaliar pela touca branca) com um tabuleiro na mão, reitera a noção de domesticidade.
Vivendo um momento de tranquilidade, estas três jovens mulheres não seduzem o espectador (reforçando a noção de que o título é meramente evocativo da tradição erudita). A sua serena presença é salientada pela expressão dos seus rostos e corpos, e pela luz que emana dos vários brancos dos seus vestidos, rasgões lumínicos na densidade de verdes luxuriantes que as emolduram e que conduzem o olhar do espectador para as cores quentes das flores e dos frutos. Uma construção em triângulo conduz o olhar do telhado do abrigo de jardim para a cabeça de uma das jovens e a camélia depositada no solitário, e para o ramo de flores e as cabeças das outras duas jovens. A mancha quente dos frutos puxa-nos em seguida o olhar para a base da composição, revelando, nas poses descontraídas, a distenção de um tempo suspenso, vivido por estas — seguras de si — mulheres num jardim.

Emília Ferreira