Obras
D. Duarte (O Melancólico)
painting


Data
1966
Técnica
Óleo sobre tela
Dimensões
150,5 x 110,5 cm
A série dos Reis, da autoria de Costa Pinheiro, mostrada em Munique (Galeria Leonhard, 1966) e só mais tarde em Portugal, foi da maior importância artística, estética e histórica na arte portuguesa do século XX.
Em condição de exílio — em 1963 rumou à Alemanha onde permaneceu até à década de noventa — retomar as figuras dos Reis perturbava o clima ideológico vigente, que os contava em sagas mitificadoras arrancando-os ao real da história, o que ele vinha corrigir, humanizando-os e tornando-os inesperadamente portugueses reais.
Com a democracia e os seus processos de instauração pós 25 de Abril, a série foi de novo esquecida, por dificuldade de pensar o passado, como se o facto de Portugal ter sido uma velha monarquia europeia fosse mancha. Queria esquecer-se o passado recente e, deste modo, perdeu-se a dimensão histórica de tudo isso. Olhados à distância, porém, ainda interrogam a nossa identidade. Bruno Marques, em breve comentário, quis ver, e bem, em “Duarte, a figura sensível, essencialmente homem educado e amante da cultura e das letras (...) forçado a governar pelo destino”, como se a tarefa da governança o arrancasse ao sossego filosófico que deveras desejava.
É, de facto, retrato exemplar, síntese de toda a série, da dimensão humana que trazia, ao mesmo tempo que inventava outra ideia do retrato e do retratar, e outro lugar histórico, crítico e estético, para esse género antigo.
A figura não-realista ocupa todo o primeiro plano, com vestes de simplificada simbólica, observada tanto na disciplina iconológica de Malévich, quanto na da Pop, antecipando nova ideia da pintura que a Alemanha depois assumiu: um - neo-expressionismo
duro depois consagrado por artistas como Polke, Baselitz e os - Neue Wilde
. O que a arte portuguesa de então não estava em medida de entender...
Bernado Pinto de Almeida
Em condição de exílio — em 1963 rumou à Alemanha onde permaneceu até à década de noventa — retomar as figuras dos Reis perturbava o clima ideológico vigente, que os contava em sagas mitificadoras arrancando-os ao real da história, o que ele vinha corrigir, humanizando-os e tornando-os inesperadamente portugueses reais.
Com a democracia e os seus processos de instauração pós 25 de Abril, a série foi de novo esquecida, por dificuldade de pensar o passado, como se o facto de Portugal ter sido uma velha monarquia europeia fosse mancha. Queria esquecer-se o passado recente e, deste modo, perdeu-se a dimensão histórica de tudo isso. Olhados à distância, porém, ainda interrogam a nossa identidade. Bruno Marques, em breve comentário, quis ver, e bem, em “Duarte, a figura sensível, essencialmente homem educado e amante da cultura e das letras (...) forçado a governar pelo destino”, como se a tarefa da governança o arrancasse ao sossego filosófico que deveras desejava.
É, de facto, retrato exemplar, síntese de toda a série, da dimensão humana que trazia, ao mesmo tempo que inventava outra ideia do retrato e do retratar, e outro lugar histórico, crítico e estético, para esse género antigo.
A figura não-realista ocupa todo o primeiro plano, com vestes de simplificada simbólica, observada tanto na disciplina iconológica de Malévich, quanto na da Pop, antecipando nova ideia da pintura que a Alemanha depois assumiu: um - neo-expressionismo
duro depois consagrado por artistas como Polke, Baselitz e os - Neue Wilde
. O que a arte portuguesa de então não estava em medida de entender...
Bernado Pinto de Almeida