Obras
Escada Mística II
painting


Data
1972
Técnica
Tinta vinílica e ouro de imitação sobre platex
Dimensões
110 x 70 cm
Eduardo Nery, um dos principais pioneiros da op art em Portugal e um dos grandes responsáveis pela sua incorporação na arte pública e na arquitetura, foi um artista multifacetado que ao longo da sua carreira trabalhou diferentes estilos e técnicas com recurso a suportes como a tapeçaria, a azulejaria, a fotografia, a colagem e a pintura. Parecendo querer ultrapassar as tradicionais fronteiras da imagem pictórica, a peça Escada Mística insere-se num estilo de pintura muito próprio da obra de Nery, denominado “pintura metafísica”, referente à primeira metade dos anos 70. Evidencia-se, não obstante, uma forte ligação às gramáticas da op art através de múltiplas articulações diversificadas entre componentes como a geometria, a escala e a perspetiva, a par da perspicaz utilização de cor, luminosidade, transparências e opacidades. A desconstrução do caixão em caixote, caixa e escada que ascende (podendo a leitura ser feita também no sentido inverso) espelha a procura de Nery pela criação de novas sintaxes visuais, através da convocação de ícones aparentemente díspares (caixão = finitude e imutabilidade vs. escadas = continuidade e movimento), demonstrando também o seu desejo em dar forma a dimensões transcendentais e infinitas. Nesta representação dupla da necessidade de ascensão e da inevitabilidade da queda, as escadas em caracol impõem-se como sinónimo da descontinuidade de perceção do real; de frente simbolizando o conhecido, os passos tangíveis, de trás o que apenas sabemos nomear pelo inverso ausente, os passos inacessíveis. Escada Mística apresenta-se, assim, como uma das obras de Nery de maior densidade na ligação entre a linguagem visual, a composição geométrica e cromática dos elementos, e a linguagem simbólica e metafórica do contraponto de forças e realidades universais.
AFM
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