Autor de uma obra que cruza a instalação, a apropriação e a transformação de objetos, Miguel Palma recorre às narrativas e ícones da modernidade clássica para refletir sobre o mundo contemporâneo em transformação. Daí o seu fascínio pelas máquinas e pela tecnologia em geral, e o seu interesse pelo modo como têm influenciado a vida do homem moderno. Através de um trabalho quase obsessivo de recolha e manipulação de materiais, o artista reinventa objetos e cria novas imagens do mundo, num universo fantástico que, habitado por engenhos, abre-se a narrativas poéticas, lúdicas, culturais ou mesmo políticas.

Nesta obra verifica-se uma certa depuração do processo de intervenção e de re-significação do objeto pré-existente, através de um deliberado jogo de aparências e referências: a tela de projeção, onde se destaca, pintada, a palavra Fim, surge como simulacro de um frame cinematográfico, insinuando a conclusão de uma narrativa ou de um acontecimento (real ou ficcionado). Ainda que com uma evidente nota de humor ou ironia, que caracteriza grande parte do seu trabalho, Miguel Palma coloca o espetador numa posição algo incómoda, ao confrontá-lo com uma barreira física que é, ao mesmo tempo, a materialização do intangível, com alusões à memória, à temporalidade, à ligação entre passado e presente – em suma, fazendo-o enfrentar a subjetividade e efemeridade da existência. 

 

Joana Baião