Go Away Green [Vá Embora Verde]

2022
Tinta de água, miras topográficas e pista automóvel PVC
170 x 220 cm
Questionador e interpelativo, o trabalho de Miguel Palma lida frequentemente com temas relacionados com a condição tecnológica da humanidade, a ideia de poder, a crença nas imagens, a ecologia e o próprio papel da arte. Sediada num imaginário pessoal em que impera o gosto pelo mundo das máquinas, do automobilismo e da aviação, a sua prática recorre a ferramentas e saberes provenientes da engenharia, da arquitetura, ou da arqueologia. O artista é também reconhecido pelo seu impulso arquivador e colecionista de objetos e imagens, num processo de apropriação e reconversão que remete para uma dimensão lúdica do fazer artístico (patente no deleite com que o artista ativa e questiona as noções de jogo, de brinquedo, de coleção e exposição), e que simultaneamente apela a uma dimensão crítica do ato criativo e estético (na medida em que questiona os códigos e sistemas de representação daquilo a que chamamos arte).
São essas as qualidades que caracterizam da obra Go Away Green, de 2022, configurada a partir de uma série de elementos pré-existentes – miras topográficas e fragmentos de uma pista automóvel de brincar – reorganizados como se delineassem um mapa. A cor dominante também é significante, ao remeter para a técnica visual de “tela verde” que, em gravações de televisão e cinema, permite colocar como fundo qualquer imagem, e criar a ilusão de que os personagens estão num ambiente diferente. Com a sua escala própria e simultânea sugestão de rota contida e de cenário aberto, esta estranha e aberta cartografia parece tanto evocar memórias pessoais, relacionadas com o mundo infantil ou com o universo das corridas automobilísticas em que o artista chegou a participar, como sugerir uma reflexão mais profunda acerca natureza transitória da existência.
Joana Baião