Homenagem a Fernando Pessoa MCMLXXXV
sculpture


1985
Bronze pintado
Ø 34 x 1,5 cm
Com formação em Escultura pela ESBAL, completada com bolsas de estudo em Espanha e Itália, Martins Correia começa a expor individualmente em 1938. Participa nas mostras oficiais mais revelantes do Estado Novo, recebendo encomendas e diversos prémios.
Paralelamente à sua produção de esculturas para o espaço público — na qual uma estilização, de influência italiana, imprime um cunho pessoal mais leve à estatuária oficial —, realiza pintura, desenho e ilustração, revelando especial apetência para o retrato. Já na década de 1960, experimenta uma aproximação à abstração.
A preferência pelo bronze e pela policromia são características da sua obra, empregando frequentemente intensos vermelhos, ocres, pretos, verdes e azuis. Realizou vários baixos-relevos em bronze policromados, com figuras da história e da cultura portuguesa, como é o caso desta peça de 1985.
Associando o carácter de homenagem da medalhística (à qual também se dedicou) com a verticalidade contemplativa derivada da aplicação do bronze sobre o suporte de madeira, Martins Correia evoca Fernando Pessoa através de uma iconografia pouco comum: um tocador de flauta em primeiro plano, acompanhado de um quadrúpede em segundo plano, numa possível alusão a poemas de Pessoa com esta temática (como por exemplo, “Trila na noite uma flauta”).
A policromia é empregue para animar as figuras e para construir o espaço abstrato da obra, com a sua mancha de vermelho à direita e com as manchas coloridas ao centro e à esquerda. Acompanhando o formato circular do bronze, inscreve à esquerda, em letras vermelhas, “Homenagem a Fernando Pessoa, MCMLXXXV”. Com uma grande economia de meios, a sua homenagem ao poeta aposta numa simplicidade festiva, enfatizando a faceta mais telúrica de Pessoa, associada sobretudo ao seu heterónimo Alberto Caeiro.
Luísa Cardoso