Apesar da sua complexidade formal e plástica, é possível caracterizar a obra da dupla João Maria Gusmão (Lisboa, 1979) e Pedro Paiva (Lisboa, 1977) como uma espécie de caleidoscópio de imagens e situações que vagueiam entre o nonsense e uma perceção dissecada do real. Recorrendo frequentemente a métodos e dispositivos associadas à tradição da camera obscura , o seu trabalho materializa-se em objetos e ambientes determinados pela sua multidisciplinaridade, muitas vezes criando situações onde o filme e a fotografia se aliam à presença da escultura e da instalação. Com uma predisposição clara para o cruzamento entre fenómenos do foro científico (i.e., incursões em experiências de som e luz) e de um entendimento histórico e social, existe na prática dos artistas uma consistência perante as abordagens ao enigma, ao sensorial e ao familiar.
O contexto da obra em bronze Espelho/Mirror remonta à exposição de 2015, The Missing Hippopotamus, no Kölnischer Kunstverein em Colónia (Alemanha). Enfatizando aquela que sempre foi uma tendência para a investigação da nossa relação com a realidade circundante, este trabalho faz parte de um conjunto de obras escultóricas referentes a objetos do quotidiano. No caso de Espelho/Mirror, o seu humor é evidente na criação de um cenário onde uma imagem próxima de um contexto animal (a aparente representação de um pato) se encontra em contraste com um objeto doméstico de uso diário humano (um espelho), sugerindo uma lógica de dinâmicas surreais em potência. 

Eva Mendes