O vídeo Or, Autrement, desenvolvido pela dupla brasileira Angela Detanico e Rafael Lain, mostra uma curiosa e complexa animação realizada usando um software de edição de imagem. Esta peça, realizada em 2006, funciona como um estudo da construção da imagem digital, dando destaque aos comandos de processamento e memorização da informação visual realizados pelo computador.
Do lado direito é-nos apresentada a pintura Flowers in a glass vase de Jan Davidsz de Heem, um exemplo de uma natureza morta do barroco Flamengo, datada de cerca de 1660, que retrata um conjunto de flores sobre fundo preto, A dupla de artistas, que vive e trabalha em Paris, criou uma ferramenta tecnológica que seleciona os pixels de uma determinada cor, transferindo-os para uma nova imagem que se forma, aos poucos, do lado esquerdo do vídeo. Nesta passagem é perdida parte da informação da posição especifica dos pixels, mantendo-se porém a distância relativa dos pontos com a mesma cor, tornando-se evidente a técnica de desconstrução da imagem digital, numa transformação lenta e contínua. Deste processo resulta uma nova imagem que possui a totalidade da informação do original, mas deformada pela reorganização do seu reposicionamento. A imagem figurativa da natureza morta é assim transformada numa interpretação abstrata, uma visão “subjetiva” da ferramenta tecnológica.
Com um caráter quase hipnotizante, esta obra leva-nos a refletir sobre os elementos constituintes por detrás das imagens digitalizadas, as quais preenchem agora o nosso dia-a-dia. Lembram-nos que por mais realistas e verosímeis que sejam, tais imagens são formadas por minúsculos elementos, sujeitos a falhas de processamento e até mesmo de manipulação. É curioso notar que o próprio título reflete este processo de reorganização: “Or, Autrement” (“Ou, caso contrário” em português), sendo um anagrama de “Nature morte” (“natureza morta” em português).
DC