Composta na sua maioria por séries, a obra de Pedro Calapez caracteriza-se pela forte utilização da cor e tem na representação do espaço uma questão transversal. Indiciando referências arquitectónicas, mas também paisagistas, os seus trabalhos oscilam entre a definição do desenho e a iminente abstração. Processualmente, é recorrente a referência ao banco de imagens que o artista tem vindo a coleccionar, onde imperam pintores como Giotto, Fra Angelico, ou ainda Piranesi. Em formato digital ou material, esta pesquisa passa por isolar pormenores e fragmentos que são alvo de exploração e manipulação da imagem por meios tecnológicos, um aspeto importante que serve de lastro a esta pintura.

- RAM 12
insere-se no corpo de trabalhos que o artista desenvolve desde os anos 90 e que se expande para 2000. Apresentada em grelha irregular, mas obedecendo à lógica da quadrícula, como o nome indica,- RAM 12
é uma obra compósita, construída por doze elementos, subdivididos em dois formatos, seis quadrados e seis retângulos, em que as pequenas pinturas são justapostas com uma distância regular, formando uma peça única. Criando uma distância entre a superfície pictórica e a parede, a utilização do alumínio como suporte, material leve e estável, transporta para o espaço de exposição uma dimensão industrial, que contrasta com a prática eminentemente manual e gestual da pintura de Calapez.

Fortemente empastadas, estas pinturas exibem várias camadas onde é inteligível o arrastamento da tinta. Nestes pormenores aparentemente desfocados, situados no limiar da abstracção, insinuam-se linhas de horizonte, caminhos, escalas e profundidades. A leitura desta obra obriga a um trabalho de contemplação a dois tempos: dos elementos individuais e do conjunto. Neste exercício de - gestalt
, o nosso olhar salta de detalhe em detalhe, e o corpo é obrigado a recuar no espaço até a visão compreender a totalidade da obra.



Rita Salgueiro