Os trabalhos de Yves Oppenheim utilizam uma complexa linguagem formal e abstrata baseada em princípios de repetição, variação e recomeço. A sua complexa abordagem à composição e à utilização de cor ligam de perto a sua prática às estruturas tradicionais da pintura. Sobreposições de formas, entrelaçadas e transparentes, representam as sucessivas construções e desconstruções que constituem a pintura, questionando desta forma o suporte a partir de dentro.
Em "Sem título", 2005, Oppenheim lida exclusivamente com uma linguagem formal de abstração, em que cor e luz funcionam como dispositivo central do trabalho. Entrelaçando e parcialmente sobrepondo um vocabulário controlado de composições de cor, Oppenheim aponta sistemas de organização de cores. Ritmicamente transformada em variações e seguindo um movimento geral de energia, a composição do trabalho revela as sucessivas construções e desconstruções ligadas ao ato de fazer e conceptualizar a obra. Com uma pincelada precisa e poderosa, característica do trabalho, Oppenheim atrai o olhar profundamente para a tela. Prevenindo interpretações imediatas ou qualquer sentido de narrativa, o trabalho perturba intencionalmente o espetador e convida a uma análise mais próxima, o que para Oppenheim determina a produção de uma obra de arte, permite que a noção de tempo prevaleça sobre a noção de espaço. Apesar da sua composição discordante e estrutura analítica, não obstante, o quadro permanece, acima de tudo, um trabalho sensual que se transforma e traduz e se revela como uma superfície luminosa de onde tudo provém, e onde tudo termina.

Markéta Condeixa