Obras
Sem título
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Data
s.d.
Técnica
Guache sobre papel
Dimensões
31 x 24 cm
Começando a expor cedo com os modernistas, logo em 1913 integrando o II Salão dos Humoristas, António Soares oferece ampla crónica desse início de século lisboeta e mundano, que perpassa toda a sua obra, da pintura ao desenho, e tem particular espelho na ilustração que praticou extensamente com expressivo talento gráfico. Como vários outros autores portugueses seus contemporâneos, foi precisamente no desenho que demonstrou maior modernidade. O seu registo gráfico sensual e elegante, captou um mundo poseur, de elegantes figuras femininas.
Neste desenho, a paleta reduzida oferece uma forte vibração cromática, com luminosos laranjas que enquadram os diversos cinzas da roupa da figura. Composição de grande poder gráfico, nela o corpo sentado observa uma estilizada torsão, mantendo a cor estritamente sob o domínio do contorno, assim afirmando o desenho como o elemento definidor. A voluptuosidade dos laranjas joga com a surdez dos cinzas tornando-os luminosos, do mesmo modo que os volumes curvos, contornados de negro, afirmam o lado gráfico da composição.
Envolta em roupas modernas, esta figura feminina olha-nos de frente. A maquilhagem, evidencia o contorno dos olhos, tornando-os mais expressivos e conferindo-lhes poder no contexto do rosto. Em pose assertiva, que sublinha a sua posição social já enunciada pelo traje, rico em peles, a boca cerrada complexifica o poder do olhar, e parece seguir uma certa contenção que se confirma no crucifixo que ostenta ao peito. A expressão séria, num rosto pálido de uma velatura cinza sobre a cor do papel, encenando o desmaiado tom da pele, torna ainda mais evidente a urbanidade da figura, e a sua vida boémia, noturna.
Emília Ferreira
Neste desenho, a paleta reduzida oferece uma forte vibração cromática, com luminosos laranjas que enquadram os diversos cinzas da roupa da figura. Composição de grande poder gráfico, nela o corpo sentado observa uma estilizada torsão, mantendo a cor estritamente sob o domínio do contorno, assim afirmando o desenho como o elemento definidor. A voluptuosidade dos laranjas joga com a surdez dos cinzas tornando-os luminosos, do mesmo modo que os volumes curvos, contornados de negro, afirmam o lado gráfico da composição.
Envolta em roupas modernas, esta figura feminina olha-nos de frente. A maquilhagem, evidencia o contorno dos olhos, tornando-os mais expressivos e conferindo-lhes poder no contexto do rosto. Em pose assertiva, que sublinha a sua posição social já enunciada pelo traje, rico em peles, a boca cerrada complexifica o poder do olhar, e parece seguir uma certa contenção que se confirma no crucifixo que ostenta ao peito. A expressão séria, num rosto pálido de uma velatura cinza sobre a cor do papel, encenando o desmaiado tom da pele, torna ainda mais evidente a urbanidade da figura, e a sua vida boémia, noturna.
Emília Ferreira