Sem título
painting


2003
Carvão e gesso sobre tela
310,5 x 212 cm
A prática de Liam Gillick abrange campos multidisciplinares e manifesta-se em vasta produção artística, musical, ensaística e curatorial, através das quais reflete sobre os modos como os sistemas estéticos coexistem (e, por vezes, colidem) com as agendas políticas, económicas e sociais que fazem parte das estruturas do mundo contemporâneo. Interessado pelos postulados dos modernismos, e questionando até que ponto estes se encontram (ou não) atualmente degradados e esvaziados de sentido, o artista apropria-se do seu vocabulário plástico e conceptual para expor o problema das condições existenciais do indivíduo globalizado na transição do século XX para a centúria atual.
Destaca-se, no trabalho de Liam Gillick, uma ligação particular às propostas do minimalismo e da arte conceptual, que inspiram as multicoloridas e depuradas estruturas feitas em materiais industriais (como o plexiglas ou o alumínio), entre as quais se integra a obra Twentypartstwenty, de 2006/7. Contudo, a interpretação destes trabalhos não se esgota no puramente “conceptual” ou na abordagem à abstração como princípio minimalista: por um lado, porque cada obra encerra narrativas idiossincráticas, enfatizadas por titulações mais ou menos enigmáticas que estimulam a especulação por parte do espetador (neste caso, o título parece remeter singelamente para as caraterísticas estruturais da peça, que é composta por vinte elementos verticais coloridos); por outro lado, devido ao consciente recurso à repetição, à padronização, ao distanciamento regulado, concebidos como mecanismos da interação do objeto com o espaço em que é exposto e com o observador, e que conferem complexidade e tensão dramática a algo que só aparentemente é simples, estável, elegante e controlado.
Joana Baião