Obras

Sem título

painting
Sem título
Sem título
© MACAM
Data

1974-1975

Técnica

Acrílico sobre tela

Dimensões

199,5 x 124,5 cm

Depois da sua estadia em Londres entre 1967 e 1968, Ângelo de Sousa abandona o pendor figurativo da sua obra em favor de uma crescente depuração formal. Assim, na década de 1970 a sua prática pictórica desenvolve-se no sentido de uma abstração de caráter minimal, marcada pela redução cromática, rigorosa geometria e exploração das qualidades matéricas dos meios utilizados.

Integrada nesta fase da sua pesquisa plástica, esta obra faz parte de uma série em que o artista explora a sobreposição de camadas cromáticas, definidoras de uma superfície densa onde surgem linhas geométricas que variam de pintura para pintura, demarcando o espaço pictórico. Nesta composição surge apenas uma ténue linha diagonal que percorre toda a extensão da tela, criando uma suposta divisão e uma ambiguidade espacial que é reforçada pelas nuances cromáticas resultantes do próprio tratamento plástico da superfície. De facto, marcada pelas quase impercetíveis variações em que a cor surge através de leves modelações, a saturação da camada pictórica é feita através da aplicação das tintas em pinceladas curtas e subtis, em direções desiguais. Desta gestualidade contida, que alia o movimento rápido e a precisão, resulta um efeito denso, mas luminoso e vibrante, pleno de profundidade e volumetria.

O entendimento do espaço pictórico em Ângelo de Sousa baseia-se na exploração das qualidades rítmica e minimal dos elementos, em função das diferentes lógicas dos materiais. As suas pesquisas centraram-se na exploração do «máximo de efeito com o mínimo de recursos», como o próprio afirmou, do que resultou uma pintura ambiental sediada na elementaridade dos meios, liberta de qualquer representação.



Joana Baião