Obras
Sem título
painting


Data
1970-1971
Técnica
Óleo sobre tela
Dimensões
100 x 81 cm
No início da carreira, Rogério Ribeiro integra o movimento neorrealista. Contudo, ao longo da sua vida, e pese embora mantendo as preocupações políticas e éticas, os temas e formas irão sofrer naturais metamorfoses, acompanhando o crescimento artístico e intelectual do autor. Geralmente figurativa, a sua obra apresenta, porém, um núcleo temporal excecional a essa regra, do final da década de 1960 ao início da seguinte. Nesse período, o seu trabalho manifesta uma abordagem abstratizante. Embora os pressupostos éticos se mantenham, a negrura do período político que então se vivia em Portugal, sob os estertores da ditadura, reflete-se numa criação consternada, de grande contenção formal, servida por uma paleta de escassos contrastes. É nessa fase de exceção que se integra a presente obra. Sobre um fundo sem referências, surge uma moldura cujo interior atrai o olhar do observador. Como se refletindo sobre o papel da pintura em tempos difíceis, a matéria em análise são as cores (com raros elementos de contraste) e o traçado geométrico, formado por linhas e manchas oblíquas. Apesar do foco nessa moldura interior (sugerindo uma vista de janela para uma paisagem anímica, como se espreitássemos para dentro do próprio artista) o atravessamento da composição por essas formas e linhas oblíquas cria elementos de instabilidade e vertigem. A paleta sublinha esse abismo interior, indo de tons mais luminosos para um centro progressivamente mais escuro. Os três pontos de vermelho vivo, as áreas de maior contraste cromático em toda a composição, conduzem o olhar do observador para dentro do turbilhão acentuando esse sentimento de queda e apagamento.
Emília Ferreira
Emília Ferreira