Sem título (FLPB#13)
photography


1977
Provas fotográficas em gelatina e sais de prata
- 23,5 x 17,5 cm50,5 x 43 x 2,5 cm
Os desenhos de luz performativos no espaço, da artista Júlia Ventura, conferem à fotografia uma vitalidade inesperada, como se se tratasse de uma autoanimação quase cinemática, onde a imagem parece respirar e mover-se por si mesma. A luz deixa de ser apenas um elemento técnico e torna-se um meio expressivo, simultaneamente representado e de representação. É também através desta que se estabelece a comunicação entre o corpo da artista e o olhar do espectador — uma presença material indispensável à experiência visual. Neste processo, a luz assume um papel ambíguo: revela e oculta, constrói e dissolve, numa cadência que se aproxima de uma coreografia visual na qual o desenho ganha uma expressão vivencial e corpórea. Este gesto inscreve-se assim num território entre a fotografia, o cinema e a performance, desafiando as fronteiras tradicionais da imagem fixa. Neste sentido, a artista propõe uma experiência precetiva em constante transformação, onde o visível se torna efémero e o invisível ganha densidade sensível. Estas obras, pertencentes à série Sem título (FLPB#) e que datam do ano de 1977, remetem-nos ao questionamento do valor da imagem, e do retrato, e a uma ação que dá lugar a uma dialética rítmica em que o resultado é um campo visual que se reconfigura a cada instante. Por sua vez, o espectador é convidado a uma contemplação ativa e física da luz enquanto matéria potencial e metamorfósica.
Carolina Quintela






