Sem título (MDIP #2)


1982
Provas fotográficas em gelatina e sais de prata
48 x 64,5 cm
Como é tornado manifesto no título de uma das séries - Modèles Inimitables d'Intuitions Possibles -, a relação entre imitação impossível e modelo é paradoxal e remetida para o domínio da intuição, do pré-verbal. Trata-se ainda assim de uma mímica que imita o não-verbal: a jouissance e a transgressão implícita. Dá-lhe corpo numa imagem que a simula. Neste sentido a prática do simulacro, tal como é trabalhada por Júlia Ventura, ganha outra amplitude. A desconstrução da denotação do sentido da imagem, realizada através da apropriação, implica-se também nesta mímica de uma emergência qualquer exterior à ordem simbólica do sentido. A simulação torna-se então um processo de sinalização, uma construção sígnica que emerge e reverte a ordem simbólica. Como um conteúdo latente, irrompe subitamente transgressor, mas pertence a um indizível e interdito. Nesta emergência traça uma reversão da estabilidade icónica e afirma um caos sem código nem sujeito constituído.
Excerto de Os idiomas da imagem e o jogo infinito, Pedro Lapa, in Júlia Ventura: 1975-1983, Culturgest, 2024.






