João Maria de Jesus de Melo Falcão Trigoso nasce em 1879 em Lisboa no contexto de uma família abastada com oito irmãos. Licenciado em Pintura pela Escola de Belas Artes de Lisboa, é seguidor do mestre Silva Porto e integra vários grupos fundados por Carlos Reis de pintura ao ar livre. Mantém-se fiel toda a sua vida a uma atitude arlivrista, de registo paisagístico, que considera eticamente comprometida com a ideia de desenvolver a identidade de uma “pintura nacional”.

Cumprindo com todos os preceitos da pintura naturalista - sur le motif
, Trigoso abandona o trabalho fechado em atelier e realiza as suas pinturas diretamente nos locais, preferencialmente durante o verão, fazendo quase um levantamento paisagístico e etnográfico das regiões por onde passa. Ao preferir zonas costeiras e distinguindo-se das suas habituais praias, esta pintura apresenta a margem de um rio onde lavadeiras tratam a roupa, junto de uma quinta, enquadrada no centro da composição e rodeada por vegetação. O rio ocupa uma faixa na cota mais inferior da composição e reflete a paisagem envolvente, de carácter rural, onde se reconhecem ovelhas a pastar.

Sendo uma pintura extemporânea, reiterada na filiação naturalista ao século XIX, a postura técnica de Falcão Trigoso denuncia, no entanto, laivos mais atualizados, perante o tratamento dos elementos retratados, através da mancha e leves pontuações, resumindo as formas a pequenas pinceladas. De colorações joviais e luminosas esta obra responde perfeitamente ao mercado tardo-naturalista que imperava ainda em Portugal durante a primeira metade do século XX, sustentado não só pela compra particular, mas também pelo regime do Estado Novo que expunha regularmente e premiava estes artistas.



Rita Duro