Obras

Sinfonia da Tarde

painting
Sinfonia da Tarde
Sinfonia da Tarde
© MACAM
Data

1924

Técnica

Óleo sobre papel colado sobre platex

Dimensões

78 x 63 cm

Engenheiro civil, poeta, ilustrador e pintor, Júlio dos Reis Pereira realizou ao longo da década de 1920 uma série de obras de crítica social, servindo-se da mordacidade de uma linguagem expressionista temperada com um onirismo inspirado em Chagall, resultando em composições de cariz surrealizante. Paralelamente, pintou também arquétipos de mulheres numa visão idealizada do amor e da natureza. Sendo o principal ilustrador da revista Presença — da qual o seu irmão José Régio era um dos diretores —, a sua obra revela também os seus princípios éticos e estéticos, nomeadamente ao nível da reivindicação de uma autonomia plástica face a um mimetismo naturalista.
Nesta obra de 1924, Júlio dos Reis Pereira, recorrendo a cores vibrantes e fortes contrastes tonais, oferece-nos uma das suas pinturas oníricas, com uma liberdade de composição inédita para a época. Diversos tipos de elementos confluem e enlaçam-se de forma centrípeta: o casario em último plano, prolongado do lado direito por planos brancos de uma mesa com um cadeeiro e uma garrafa, circunscrevendo ao centro um pátio que afinal é um céu — habitado por uma lua e uma estrela —, mas também um mar — onde desliza um barco. Em primeiro plano, do lado esquerdo da composição, uma mulher de perfil assume o protagonismo da composição e com o seu braço estendido cria uma elipse de ligação das partes, enquanto no céu voa um balão e um anjo branco adormecido, claramente reminiscente das figuras aladas de Chagall.
O expressionismo onírico de Júlio dos Reis Pereira faz coincidir no mesmo plano da tela realidades diversas, trocando os seus espectáveis lugares de enunciação, ao mesmo tempo que faz convergir diversas tradições pictóricas de construção do espaço. Não obstante os fortes contrastes tonais, há uma harmonia geral da gama cromática desta obra: a distribuição ritmada das cores confere coesão à composição, incitando o olhar a participar na alegria do seu movimento.
LC