Obras

Teatro II

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Teatro II
Teatro II
© MACAM
Data

1973

Técnica

Aguarela e tinta preta sobre papel

Dimensões

21 x 29,5 cm

Natural da Nazaré, Mário Botas (1952-1983) desenha, pinta e escreve desde a infância. Todavia, é ao chegar a Lisboa em 1970, para frequentar o curso de medicina, que contacta com novos horizontes e referentes artísticos. Torna-se então próximo de várias personalidades ligadas ao surrealismo, porém essa categorização está longe de o definir. Como o próprio afirma: “Querer ressuscitar nos anos 70 um surrealismo em terceiras núpcias é acenar a bandeira da conquista nas ruínas de um castelo.”
Todavia, alguns elementos ajudam a iluminar o seu universo referencial, nomeadamente o seu interesse pela mitologia, pela literatura, pela filosofia e pela ópera. Na constelação dos seus autores e artistas favoritos constam Cervantes, Swift, Rousseau, Baudelaire, Rimbaud, Lautreamont, Lewis Carrol, Fernando Pessoa, Jorge Luis Borges, Brueghel, Blake ou Klee.
Esta obra de pequeno formato convoca uma aproximação, criando uma intimidade entre o observador e a cena silenciosa e insólita que ali se desenrola. Tudo na obra concorre para esse insólito que se não descodifica: desde a construção do espaço, às personagens, à movimentação destas. De um último plano negro avança uma personagem com corpo humano, luvas de boxe e cabeça de animal — mas sem traços de rosto. Um grupo de três figuras, duas delas com cabeça de pássaro (e luvas de boxe), inflete a sua marcha para a direita da composição, ignorando-nos. Apercebemo-nos então que caminham para o que parece ser um palco, como se estivessem num teatro ou numa ópera e o lugar no espectador não fosse o nosso, o do observador, mas interno à ficção criada pelo artista. O universo insólito de Mário Botas não se fez apenas de dramaticidade, mas também de misterioso humor e ironia.
LC