Mário Botas (Nazaré, 1952 - Lisboa, 1983) cresceu e realizou os estudos secundários na sua cidade natal, mudando-se para Lisboa, em 1970. Na capital, inscreve-se na Faculdade de Medicina, concluindo o curso em 1975. Contudo, não exerceria medicina, realizando apenas um estágio de psiquiatria. Mais interessado em prosseguir uma carreira artística, realiza as suas primeiras exposições individuais na Comissão Municipal de Turismo da Nazaré, em 1971, e na Galeria S. Mamede, em Lisboa, dois anos depois. No mesmo ano, contacta com as práticas surrealistas, através de Cruzeiro Seixas, Mário Cesariny, Paula Rego e Raúl Perez. Apesar de influentes nesta fase inicial da sua obra, Mário Botas rapidamente se afastou das convenções surrealistas, chegando mesmo a censurá-las. O ano de 1977 é marcado por uma notícia que afectaria o resto da sua vida: com apenas vinte e quatro anos, é-lhe diagnosticado leucemia. A partir deste momento, decide dedicar-se exclusivamente à pintura, ao desenho e a outras actividades artísticas. Porém, não abandona totalmente a hipótese de uma cura e parte para Nova Iorque, em 1978, onde é observado no Memorial Hospital. Paralelamente absorve referências da cidade americana, que o fascina não só pelo movimento e diversidade, mas essencialmente pela sua dimensão poética e fantasiosa. É este universo mítico que capta o seu interesse, manifestando-se em toda a sua obra, assim como a literatura, outra grande matéria de inspiração. Ainda em Nova Iorque, conhece o trabalho do pintor Egon Schiele, que incentiva Mário Botas a realizar, ele próprio, uma série de auto-retratos. Talvez devido à doença e à perspectiva de uma vida curta, estes trabalhos terão servido como uma forma de autoconhecimento, de deixar partes de si e de se despedir. Em 1980, regressado a Lisboa, permanece totalmente dedicado à sua obra, acelerando, inclusive, o ritmo de produção. No âmbito de actividades artísticas, além da pintura, destaca-se a direcção da peça O Marinheiro, de Fernando Pessoa. Em 1984, um ano após a sua morte, é realizada a Primeira Exposição Póstuma da Obra de Mário Botas, na Cooperativa Árvore, e é criada a Fundação Casa-Museu Mário Botas, tal como expresso no seu testamento.
FMV, julho 2020
FMV, julho 2020