The Prize Song (from R.)
video


2001
Vídeo, 4:3, loop, cor, som, 2'38''
Com um percurso inicialmente ligado à dança, João Penalva dedicou-se às artes visuais a partir dos anos 1990, tornando-se um dos mais relevantes artistas portugueses. Um marco em sua carreira foi a representação de Portugal na Bienal de Veneza de 2001, onde apresentou a instalação R., inspirada na ópera Mestres Cantores de Nuremberga, de Richard Wagner. Esta obra reflete de forma exemplar o carácter interdisciplinar de Penalva, que cruza referências da dança, teatro, música e literatura.
Parte central dessa instalação foi The Prize Song, um vídeo acompanhado por fotografias de concursos de canto. Sobre um constante fundo negro, o vídeo exibe imagens fragmentadas de um atleta masculino de ginástica desportiva no aparelho de argolas, envergando um maiô vermelho. O extremo close-up foca os punhos enfaixados, as mãos a esfregar pó de magnésio,os membros superiores tensionados, as argolas suspensas e os movimentos acrobáticos. A execução precisa, marcada por movimentos de balanço, rotação, suspensão e paragens estáticas, cria um dinamismo hipnótico, onde o vermelho surge e desaparece em ritmo pulsante. A ausência de dimensão espácio-temporal, aliada à intensidade cromática e à repetição em loop das imagens, é amplificada pelos sons reais dos movimentos que desempenham um papel crucial na imersão sensorial proporcionada pelo vídeo.
A obra assume um papel metafórico ao articular os vários núcleos narrativos de R., dialogando como enredo da ópera. O título evoca evoca também a representação portuguesa na Eurovisão de 1969, quando, apesar da qualidade da canção, que se tornou histórica, o país ficou entre os últimos colocados. Essa analogia reflete a competição intrínseca à Bienal de Veneza.
Na sua dimensão poética e conceitual, a obra de João Penalva conduz o espectador por narrativas enigmáticas, em que o limiar entre o real e o ficcional se torna sutil e quase imperceptível.
Adelaide Ginga