António Pedro (Cidade da Praia, Cabo Verde – Moledo do Minho, 1966) foi uma personalidade multifacetada – pintor, ceramista, poeta, dramaturgo, cenógrafo, crítico, ensaísta, galerista, e mais - marcante na cultura portuguesa do século XX. Estudou Direito, em Coimbra (1928-1930) e Ciências Histórico-Filosóficas, em Lisboa (1930-1931). Apresentou pela primeira vez desenhos e caricaturas em 1925, em Viana do Castelo, estreando-se também na poesia, no ano seguinte, com o livro Os meus sete pecados capitais. Criador e diretor do jornal A Bandeira, e membro da organização do I Salão dos Independentes (1930), foi ainda o fundador da galeria UP, a primeira de arte moderna em Portugal, onde Maria Helena Vieira da Silva expõe pela primeira vez, em 1935. Um ano mais tarde, António Pedro também realiza aqui a sua primeira exposição individual – 20 Poemas Dimensionais e outros Desenhos. Em 1934, parte para Paris, onde frequenta o Institut d’Art et Archéologie da Sorbonne e outras academias, assinando ainda, no mesmo ano, o Manifesto Dimensionista, cujos princípios divulgaria em Portugal. Entretanto, começa a manifestar um interesse nas propostas surrealistas, desempenhando também um papel importante na divulgação destas, patente em exposições como a que realiza com António Dacosta e Pamela Boden na Casa Repe, em 1940. Foi ainda precursor no contexto da literatura surrealista, publicando o romance Apenas uma Narrativa, em 1942. Entre 1944 e 1945, em plena II Guerra Mundial, trabalha como cronista na divisão portuguesa da BBC, em Londres, onde tem a possibilidade de conhecer os surrealistas ingleses, e participar na exposição Surrealist Diversity (Arcade Gallery, 1945). Regressado a Portugal, exerce um papel fundamental na criação do Grupo Surrealista de Lisboa e participa na 1ª Exposição Surrealista, em 1949. Ao longo da sua carreira, trabalha regularmente com revistas como a Presença, a ABC e a Horizonte. No início dos anos 50, instala-se definitivamente em Moledo do Minho, dedicando-se essencialmente à produção cerâmica, e ao seu trabalho como diretor, ensaísta e cenógrafo no Teatro Experimental do Porto. Em 1979, a Fundação Calouste Gulbenkian organizou uma grande retrospetiva da sua obra, que se encontra presente em várias coleções nacionais.
FMV, outubro 2020
FMV, outubro 2020