Marcado pelos postulados da arte conceptual e dos movimentos minimalistas, João Louro começou a explorar desde cedo as relações entre a linguagem visual e a linguagem escrita, questionando como as imagens podem ser descritas por palavras, e como as palavras podem ser, como signo e significado, sugestionadoras de imagens visuais. A complexidade das questões em torno do caráter visual da palavra e do caráter discursivo (verbal) da imagem, refletem-se numa obra que se manifesta através de variada panóplia de meios - fotografia, texto, escultura, pintura - e que assume como fontes privilegiadas o universo da história da arte e a cultura contemporânea.

Constituído por diversas séries produzidas ao longo de vários anos, o projeto - Blind Images

foi iniciado na década de 1990 como reação à entropia provocada pelo excesso de informação visual. Aqui, as imagens são ocultadas sob uma camada homogénea de acrílico, ficando em destaque apenas uma descrição textual. A ausência de ação visual é apenas aparente, pois o observador tende a substituir mentalmente a obliteração das imagens através do enquadramento descritivo sugerido pelas legendas. Por outro lado, o - plexiglas

que cobre cada tela cria um efeito de espelho em que o observador se vê refletido, preenchendo o espaço vazio e assim reforçando a qualidade visual do conjunto.



Nesta série (#204), as imagens eliminadas a negro correspondem a registos fotográficos da Batalha de Verdun, um dos grandes eventos da Primeira Guerra Mundial e um dos primeiros conflitos armados a ser sistematicamente documentado e difundido através da fotografia.



João Louro retém o interesse nos sistemas discursivos que condicionam e dirigem as possibilidades do olhar, questionando-os e reconfigurando-os em obras que funcionam como crítica da própria imagem, e que nos lembram que ausência pode ser mais expressiva do que qualquer representação literal.







Joana Baião