Segundo Eugenio Merino, uma boa obra de arte não é agradável, decorativa ou estética. Decididamente, a arte não deve ser o resultado de autocensura e aquiescência, nem deve ser impulsionada pelo desejo de agradar a críticos, patronos, instituições e colecionadores. Num espírito que funde pop e dadaísmo, o artista defende a ideia de que a beleza está no conceito e que a arte tem de permanecer um campo aberto de liberdade e experimentação, disposto a produzir peças inconvenientes e incómodas que questionam, perturbam e abalam o público.

- Fight the Power
é uma obra de arte tipicamente irreverente e combativa que se situa entre a escultura e a instalação. Reproduz um antebraço negro realista com um punho cerrado segurando uma peça laminada de arame farpado dourado. Combina materiais tradicionais e nobres como o bronze patinado e o arame de aço afiado e dourado de 24 quilates (referindo-se à guerra, campos de concentração e prisões), e o punho direito erguido, símbolo universal da revolução social, solidariedade, resistência e desafio contra regimes fascistas e autoritários, ditaduras e tiranias. Pode ser associado a outros objetos e ilustrações semelhantes de Merino, como o seu ácido e catártico - Punch your Dictator
, que representa um punho a sair do lado direito da cabeça de Franco, ou o seu - In God we Trust
com uma série de mãos douradas montadas na parede segurando notas de dólar dobradas, bem como o seu - Victory or Death
, uma mão a fazer o gesto V rodeada por arame farpado dourado.

O título da obra de arte parece estar em sintonia com o muito aclamado sucesso do hip-hop americano de 1989 "Fight the power" dos Public Enemy, lançado um ano mais tarde no seu LP - Fear of a Black Planet
. A canção contém várias amostras da cultura afro-americana e representa a justiça e os direitos civis, denunciando o abuso de autoridade, a manipulação dos meios de comunicação social, a iniquidade, a discriminação e o racismo. “O punho negro ergue-se para o hino”.



Katherine Sirois