Obras
Mais uma perigosa infiltração trotskista – o rapto do Polvo Unido
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Data
1975
Técnica
Aguarela e tinta da China sobre papel
Dimensões
78 x 57,5 cm
Após a Revolução de 1974, Batarda realiza várias obras que comentam a situação política nacional, como já antes o fizera relativamente ao contexto ditatorial do Estado Novo. Nesta obra do “verão quente” de 1975, diversos espaços quebrados, fragmentados e sobrepostos tecem o palimpsesto da imagem, num movimento que parece mimetizar a ebulição política contemporânea.
No topo da obra lemos: “Novas Aventuras do Polvo Unido. Cap. 4: raptado pelos trots.” Fazendo o trocadilho entre o “povo” e o “polvo”, Batarda alude aqui, com a anarquia disruptiva que o caracteriza, a diversas situações desse período. Em primeiro lugar, parece referir-se à sedução de parte da esquerda dos anos 60 e 70 pela alternativa trotskista. O polvo (que tanto pode ser entendido como o povo, como uma alusão à extensão tentacular do poder) é pois raptado pelos trotskistas. Para além do grande polvo que centraliza a composição, pequenos polvos pontuam a obra, nomeadamente na divertida vinheta retangular do canto inferior direito, onde três polvos de tentáculos entrelaçados brincam com a máxima “O povo unido jamais será vencido”.
O movimento do rapto é plasticamente sugerido pela diagonal que orienta a composição: o movimento das duas figuras que correm em primeiro plano, o polvo entre ambas num segundo plano e as verticais oblíquas orientadas no mesmo sentido.
Entre os vários planos estilhaçados, Batarda distribui diversos elementos: a icónica estrela vermelha, o soldado, a “Pepita” nua, o homem que suspeitosamente espreita por trás do quadro ou janela, a mala de viagem (numa alusão à descolonização?), secções de cortiça perto das quais se lê “Isto a cortiça já não dá para nada” (possível comentário à Reforma Agrária), retalhos de mapas de países deformados e cerzidos a recordar o perfil de Portugal e Angola (talvez uma alusão ao famoso mapa “Portugal não é um país pequeno” da propaganda estado-novista). Se Batarda alude ao tumulto de 1975, criticando-o sarcasticamente, tão pouco adere a alguma alternativa. No distanciamento do seu corrosivo humor manterá o seu posicionamento.
Luísa Cardoso
No topo da obra lemos: “Novas Aventuras do Polvo Unido. Cap. 4: raptado pelos trots.” Fazendo o trocadilho entre o “povo” e o “polvo”, Batarda alude aqui, com a anarquia disruptiva que o caracteriza, a diversas situações desse período. Em primeiro lugar, parece referir-se à sedução de parte da esquerda dos anos 60 e 70 pela alternativa trotskista. O polvo (que tanto pode ser entendido como o povo, como uma alusão à extensão tentacular do poder) é pois raptado pelos trotskistas. Para além do grande polvo que centraliza a composição, pequenos polvos pontuam a obra, nomeadamente na divertida vinheta retangular do canto inferior direito, onde três polvos de tentáculos entrelaçados brincam com a máxima “O povo unido jamais será vencido”.
O movimento do rapto é plasticamente sugerido pela diagonal que orienta a composição: o movimento das duas figuras que correm em primeiro plano, o polvo entre ambas num segundo plano e as verticais oblíquas orientadas no mesmo sentido.
Entre os vários planos estilhaçados, Batarda distribui diversos elementos: a icónica estrela vermelha, o soldado, a “Pepita” nua, o homem que suspeitosamente espreita por trás do quadro ou janela, a mala de viagem (numa alusão à descolonização?), secções de cortiça perto das quais se lê “Isto a cortiça já não dá para nada” (possível comentário à Reforma Agrária), retalhos de mapas de países deformados e cerzidos a recordar o perfil de Portugal e Angola (talvez uma alusão ao famoso mapa “Portugal não é um país pequeno” da propaganda estado-novista). Se Batarda alude ao tumulto de 1975, criticando-o sarcasticamente, tão pouco adere a alguma alternativa. No distanciamento do seu corrosivo humor manterá o seu posicionamento.
Luísa Cardoso