Obras
Sem título
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Data
1976
Técnica
Tinta da China e guache/acrílico sobre papel
Dimensões
34,5 x 28,5 cm
Natural do Minho, Raúl Perez apresenta-se ao público pela primeira vez em 1972 na Galeria São Mamede em Lisboa, contando então com 28 anos. Conhecera na década anterior Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas, altura em que descobre, nas suas próprias palavras, “um parentesco” entre o seu imaginário e o surrealismo. Ainda que recuse definições e tão pouco possa ser integrado nos grupos históricos do surrealismo português, este será estruturante em toda a sua produção. No início dos anos 70 passa a integrar o grupo Phases, criado por Édouard Jaguer na senda do surrealismo.
Neste guache sobre papel de 1976 — o qual conhecerá em 1981 uma revisitação, com pequenas variantes, num óleo sobre tela —, Raúl Perez apresenta-nos uma das suas paisagens enigmáticas habitadas pelo silêncio. Como sustenta Cruzeiro Seixas, as suas obras são “um pressentimento, um presságio”, ecoando uma suspensão do tempo nas suas arquiteturas vazias e seres oníricos sem rosto que as aproxima das obras de Giorgio de Chirico. A contenção cromática, abdicando da cor e restringindo-se a uma gama de tonalidades entre o branco e o preto, concorre para essa sensação de desolação da paisagem e de angústia de uma espera.
Sobre um fundo negro sugestivo de um céu noturno, o artista compõe o espaço através de duas estruturas arquitetónicas: uma mais alteada num primeiro plano, outra num segundo plano a uma cota mais baixa. As diagonais e o ritmo dos vãos das estruturas arquitetónicas dinamizam a composição, bem como os seres alados que espreitam para dentro dos seus vazios e assim nos recusam uma face. Estas são paisagens oníricas, abandonadas há muito, como o autor nos deixa entrever pela lenta deterioração das superfícies das fachadas dos edifícios. Os seres que as habitam voam, reiterando com uma suspensão no espaço aquela que é também uma suspensão no tempo.
Luisa Cardoso
Neste guache sobre papel de 1976 — o qual conhecerá em 1981 uma revisitação, com pequenas variantes, num óleo sobre tela —, Raúl Perez apresenta-nos uma das suas paisagens enigmáticas habitadas pelo silêncio. Como sustenta Cruzeiro Seixas, as suas obras são “um pressentimento, um presságio”, ecoando uma suspensão do tempo nas suas arquiteturas vazias e seres oníricos sem rosto que as aproxima das obras de Giorgio de Chirico. A contenção cromática, abdicando da cor e restringindo-se a uma gama de tonalidades entre o branco e o preto, concorre para essa sensação de desolação da paisagem e de angústia de uma espera.
Sobre um fundo negro sugestivo de um céu noturno, o artista compõe o espaço através de duas estruturas arquitetónicas: uma mais alteada num primeiro plano, outra num segundo plano a uma cota mais baixa. As diagonais e o ritmo dos vãos das estruturas arquitetónicas dinamizam a composição, bem como os seres alados que espreitam para dentro dos seus vazios e assim nos recusam uma face. Estas são paisagens oníricas, abandonadas há muito, como o autor nos deixa entrever pela lenta deterioração das superfícies das fachadas dos edifícios. Os seres que as habitam voam, reiterando com uma suspensão no espaço aquela que é também uma suspensão no tempo.
Luisa Cardoso