Sem título (da série «It's not dark yet, but it's getting there»)
other


2003
Tinta da China sobre papel esquisso
162 x 212 cm
Its not dark yet, but it’s getting there, título homónimo a uma música de Bob Dylan, é uma série composta por três imagens, das quais duas integram a colecção MACAM. Realizados em 2003, ano prolífico em que Adriana Molder conclui também as séries Carlota, Copycat e Alien Burglar, estes trabalhos transportam-nos para o início da pesquisa que Adriana Molder tem vindo a desenvolver no âmbito da figuração, onde o rosto ocupa o lugar central.
Evocando imagens cinematográficas, fonte a que recorre regularmente como ponto de partida, estas representações de outras representações autonomizam-se no invulgar processo de reprodução que caracteriza o trabalho da artista, concretizado livremente sem estudo ou projecção sobre o suporte.
Mantendo referências aos planos cinematográficos – subtilmente picado frontal e contrapicado lateral – e privilegiando a aproximação do rosto como ponto de destaque – close-up – Adriana Molder estabelece relação com o cinema mudo através da composição a preto e branco. Essa relação é reforçada pelo olhar das personagens femininas, lembrando a acentuada expressividade das Divas mudas, e como elemento descritivo, assume uma componente narrativa que o espectador encontra em suspenso. Reforçando uma dimensão de memória e passado, o recurso ao preto e branco, entre a escuridão e a luz, opera em variações tonais que são potenciadas pela técnica do desenho a tinta-da-china. O suporte ondulante e translúcido, obtido a partir de quatro folhas de esquisso agrupadas, confere uma escala monumental ao trabalho. O uso da mancha diluída ou opaca, contraria a linearidade do desenho e garante expressividade, destabilizando, na aparente subversão da técnica e do suporte, noções convencionais de desenho e pintura.
Imagens aquosas, desfocadas e sombrias, articulam ecos de terror e romantismo, atestando ainda a admiração que a artista tem pela pintura de Edvard Munch, Egon Schiele, Odilon Redon e pelo cinema expressionista germânico.
Rita Salgueiro