José Manuel Espiga Pinto (1940-2014) nasceu e cresceu em Vila Viçosa, no Alentejo. Frequentou a Escola Superior de Belas Artes de Lisboa entre 1957 e 1960, realizando a sua primeira exposição individual em 1958 na Galeria Pórtico, na mesma cidade. Entre 1960 e 1966 regressou ao Alentejo, onde foi docente na Escola Industrial e Comercial de Estremoz. O facto de ser natural do Alentejo será determinante nesta fase inicial da sua produção, caracterizada por David Santos como um “neorrealismo tardio”. Nas palavras do próprio artista, tomara a decisão de “Cantar o Alentejo”, revisitando os “campos, o trabalho, os camponeses, camponesas e cavalos, numa simbiose entre a dureza do trabalho de sol a sol e a vivência da tradição do vestuário, das feiras, dos lagares de azeite, das festas populares, religiosas-pagãs, as festas do acabamento da apanha da azeitona...” Os cavalos, que confessadamente o apaixonaram, e as figuras camponesas são o mote desta composição. O espaço prescinde de qualquer construção perspética, compondo-se por sucessivas bandas na verticalidade do papel. A grande economia cromática permite-lhe concentrar-se num jogo entre cheios e vazios na construção das diversas figuras, o que desde logo imprime ritmo à obra. A isto se junta o imbrincado de formas, onde os cavalos e os camponeses, desenhados em diagonais sobrepostas, tendem a formar um todo uno e de grande dinamismo. A obra de Espiga Pinto desenvolver-se-á em direções diversas nos anos subsequentes, tanto tematicamente, como formalmente. Todavia, determinados elementos ligados à sua origem e que habitam a sua fase inicial não mais abandonarão a sua produção.

LC