Artistas
António Sena
António Sena (Lisboa, 1941—). Após estudos no Instituto Superior Técnico e na Faculdade de Ciências de Lisboa, opta pelos cursos de Gravura na Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses. Expõe individualmente desde 1964, e coletivamente desde 1965, ano em que uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian o leva a Londres, para estudar na St. Martin's School of Art (1965-66). Regressa a Portugal em 1975. Entre 1978 e 1992, ensina pintura no Ar.Co. Após essa data, dedica-se apenas à criação artística. A sua obra, premiada nacional e internacionalmente, está representada, entre outras, nas coleções do Museu Nacional de Arte Contemporânea, Coleção Moderna da FCG, Fundação de Serralves, Fundação Carmona e Costa, ou Fundação EDP.
Nos anos 60, em Londres, a sua obra acolhe influências da Pop Art. Contudo, no fim da década reconhece-se já uma linguagem pessoal, em que se perdem referências concretas do real para assumir a pesquisa da relação com a escrita. Na década seguinte, a pintura parece evocar um carácter crescentemente experimental, como se se tratasse de cadernos de notas, misturando letras, palavras (o seu próprio nome), números, gráficos e alvos. A cor torna-se mais liberta, mas o mistério das composições aumenta. Os signos usados não configuram qualquer realidade reconhecível, antes sugerem pistas.
Nos anos 80, figuras geométricas tentam destacar-se de fundos cada vez mais sedimentados. Essa densidade aumenta exponencialmente nas décadas seguintes, no desenho e em especial na pintura. As sucessivas camadas de cores térreas, argilosas, evocam um trabalho próximo da modelação, como se fossem riscadas a dedo.
Na década de 2000, a caligrafia mais ilegível das décadas anteriores é substituída por textos, e palavras cruzadas. Continuam a acolher números, símbolos científicos, setas, mantendo a ilegibilidade e inspirando sempre dúvida e inquietação. O tempo confirma-se como o tema mais evidente, simbolizado pela presença de ampulhetas, da etiqueta e da pedra tumular, em particular com a citação, em alemão (língua pouco conhecida em Portugal e que o autor também não domina), do epitáfio de Paul Klee. Até hoje, reescrita constante do mundo, a obra de António Sena permanece um ensaio sobre a finitude e o mistério que jamais se revela.
EF, dezembro 2020
Nos anos 60, em Londres, a sua obra acolhe influências da Pop Art. Contudo, no fim da década reconhece-se já uma linguagem pessoal, em que se perdem referências concretas do real para assumir a pesquisa da relação com a escrita. Na década seguinte, a pintura parece evocar um carácter crescentemente experimental, como se se tratasse de cadernos de notas, misturando letras, palavras (o seu próprio nome), números, gráficos e alvos. A cor torna-se mais liberta, mas o mistério das composições aumenta. Os signos usados não configuram qualquer realidade reconhecível, antes sugerem pistas.
Nos anos 80, figuras geométricas tentam destacar-se de fundos cada vez mais sedimentados. Essa densidade aumenta exponencialmente nas décadas seguintes, no desenho e em especial na pintura. As sucessivas camadas de cores térreas, argilosas, evocam um trabalho próximo da modelação, como se fossem riscadas a dedo.
Na década de 2000, a caligrafia mais ilegível das décadas anteriores é substituída por textos, e palavras cruzadas. Continuam a acolher números, símbolos científicos, setas, mantendo a ilegibilidade e inspirando sempre dúvida e inquietação. O tempo confirma-se como o tema mais evidente, simbolizado pela presença de ampulhetas, da etiqueta e da pedra tumular, em particular com a citação, em alemão (língua pouco conhecida em Portugal e que o autor também não domina), do epitáfio de Paul Klee. Até hoje, reescrita constante do mundo, a obra de António Sena permanece um ensaio sobre a finitude e o mistério que jamais se revela.
EF, dezembro 2020