Após uma estadia em Londres, entre 1964 e 1965, Julião Sarmento (Lisboa, 1948-2021) regressa a Lisboa, onde ingressa na Escola Superior de Belas Artes. Aqui, frequenta os cursos de Pintura e de Arquitetura, deixando ambos por concluir. A sua primeira exposição individual acontece em 1976, na Galeria de Arte Moderna da Sociedade Nacional de Belas Artes, onde também participa na exposição Alternativa Zero no ano seguinte. Sete anos mais tarde, a sua obra integra a exposição Depois do Modernismo no mesmo espaço. O seu percurso é desde cedo marcado por uma internacionalização crescente - e consequente reconhecimento - verificada na presença em eventos como as Documenta de Kassel (1982 e 1987), a IV Bienal de Paris (1980), a 47ª Bienal de Veneza (1997), a 25ª Bienal de São Paulo (2002), e ainda em projetos como a parceria com Atoum Egoyan, na 48ª Bienal de Veneza (2001). Recorrendo a diversos suportes – pintura, desenho, fotografia, filme, instalação e gravura – desenvolveu um percurso original, marcado por obras que compõe a partir de instantes e fragmentos, e que se centram na figura humana, com particular interesse pela mulher. Figuras femininas, instrumentos, objetos, arquiteturas e, por vezes, animais, habitam estas composições, maioritariamente apenas de forma sugerida, através de processos de ocultação e de fragmentação das cenas. Muitas das suas obras são metaforicamente associadas a dimensões de violência ou sexualidade. Porém, o artista nem sempre pretende abordar estes temas per se, mas antes aquilo que transmitem, como ações momentâneas, ritmos, movimentos, emoções, remetendo para os métodos da literatura e do cinema. Os próprios títulos são considerados pelo artista como parte vital da obra, sendo que, a partir dos anos 70, incorpora a palavra no seu trabalho, sob a forma de excertos ou legendas. Ao longo da sua carreira, expôs em importantes instituições nacionais - Fundação Calouste Gulbenkian, Museu Nacional de Arte Contemporânea e Fundação de Serralves – e internacionais – Guggenheim Museum (Nova Iorque), Stedelijk Museum (Amesterdão), Tate Modern (Londres), IVAM (Valência), Museo de Bellas Artes de Málaga, entre outras. O Museu de Serralves, realizou em 2012-13 uma retrospetiva da sua obra, que recebeu o Prémio AICA/SEC, 2012. Mais recentemente e após a sua morte foi apresentada uma grande exposição, Abstrato, Branco, Tóxico e Volátil, projetada por si ainda em vida em colaboração com a curadora Catherine David. A sua obra encontra-se representada em inúmeras coleções em Portugal e no estrangeiro.
FMV, agosto 2022
FMV, agosto 2022