Após a sua estadia em Madrid (1927-1932), José de Almada Negreiros regressa a Portugal, encontrando um país em que o mercado de arte contemporânea era praticamente inexistente. Neste contexto, muitos artistas asseguravam a sua sobrevivência através da realização de trabalhos gráficos, em colaboração com a imprensa e na área da publicidade, que a partir da década de 1930 foi fortemente impulsionada pela máquina propagandística do Estado Novo. Expoente do modernismo português, dotado de um grande domínio do desenho, Almada desenvolve neste período uma intensa produção na área das artes gráficas e visuais: faz trabalhos publicitários, colabora com periódicos, executa cartazes para cinema, desenha selos e cartazes oficiais. O reconhecimento da sua qualidade leva ao incremento de encomendas públicas e privadas.
Este painel constitui o estudo para uma pintura mural (já destruída) encomendada no âmbito da renovação da Estação dos CTT da Praça do Comércio (1938-1940). Almada propõe uma abordagem histórica, evocando o tempo em que as comunicações e os serviços de correio eram assegurados pelo sistema de mala-posta ou diligência, que recorria a carruagens puxadas por cavalos. A posição do observador corresponde ao local em que se encontra instalada a estação, na ala poente da Praça, destacando-se ao fundo a estátua do rei D. José e a arcaria nascente, bem como as torres da Sé de Lisboa, que surgem timidamente à esquerda, e o rio, que marca o limite do terreiro.
A cena - a chegada da diligência - apresenta um dinamismo conferido pela marcação rítmica das colunas e pela interação das personagens. Sendo uma pintura preparatória, Almada opta por estilizar as figuras. Porém, verifica-se, ainda assim, alguma atenção dada ao detalhe, visível no tratamento das vestes, dos arreios dos cavalos e da carruagem.
JB