Obras

O homem das louças [The crockery man]

painting
O homem das louças
O homem das louças
© MACAM/Bruno Lopes
Data

1919

Técnica

Óleo sobre tela

Dimensões

131,7 x 114,4 cm

Pintura incontornável na obra de Eduardo Viana, «O homem das louças», de 1919, é muito mais do que o retrato de uma figura anónima rodeada de objetos e de cores que evocam a pintura simultaneísta de Sonia e Robert Delaunay. Apesar da solidez do corpo e do à-vontade da pose frontal do retratado, é no seu olhar, que parece encarar-nos e no entanto se desvia, e nos objetos que apresenta já como - memorabilia
de interesses partilhados e trabalho em comum, que percebemos tratar-se de uma pintura onde ficou o registo de uma separação.

Após a partida dos Delaunay, que regressam a Espanha em Janeiro de 1917, e a morte de Amadeo de Souza-Cardoso, em Outubro de 1918, Viana vê-se privado de um círculo próximo de artistas que constituíam referências estimulantes. Dessa partilha são exemplo evidente obras como «A Revolta das Bonecas», «K4 Quadrado Azul» ou a colagem «La Petite».

Será a partir do inverno de 1916/17, quando pinta «A Rendeira de Vila do Conde», que descreve a Sonia como o seu “grande Vermeer, (…) campo de batalha para o inverno”, que Viana parece integrar, mais aprofundadamente, os princípios da pintura simultaneísta com a matriz construtiva da sua pintura figurativa anterior à guerra. Uma terceira pintura, «As três abóboras», com data atribuída de 1919, segue a mesma tipologia, regressando Viana à representação da figura a negro, neste caso masculina, caraterística de pinturas suas mais antigas, e que surge nesta tela rodeada de abóboras que se desmaterializam em cores complementares.

«O rapaz das louças» era a pintura preferida de Eduardo Viana que a expõe, pela primeira vez, no 2º Salão de Outono lisboeta, em 1926. Já foi escrito que, com esta pintura, p artista “reentra em si próprio” num momento em que, no contexto cultural europeu, se dá um “regresso à ordem” após a euforia das vanguardas da década que antecede a Grande Guerra. Mas tanto na sua esfera pessoal como no registo, mais alargado, da atmosfera cultural europeia, as transformações haviam sido profundas e irreversíveis. Viana despede-se aqui dos bonecos de barro colorido, que o seduziam e que pintara em 1915, provavelmente antes da chegada dos Delaunay a Portugal. Disso é testemunha este «homem das louças», para sempre imobilizado entre um fundo de pinturas de fortes texturas multicores deixadas para trás.



Ana Vasconcelos

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