Pálpebra I insere-se na dicotomia peso-leveza que caracteriza o trabalho do artista português Rui Chafes, avultando nesta obra uma estranheza que advém da forma e, pela cor negra, da sua “condição enlutada”. A escultura em ferro, que se apresenta suspensa, explora a ausência do corpo e parece ser o espaço protetor de uma metamorfose, ou passagem para novos estados de identidade. Perante a dificuldade ou a impossibilidade de encontrar um referente formal, o espectador poderá, ainda assim, vislumbrar a “silhueta” de um “corpo já desaparecido”, onde a estrutura superior se opõe à inferior: linhas metálicas suportam uma malha de sombras.
Também o título, a palavra, elemento que remete para a leveza do pensamento, poderá abrir caminho a uma experiência cuja emoção supera a apreensão das formas. Neste sentido, leve é também o movimento da pálpebra que pode abrir, ou fechar, os nossos olhos ao mundo, e leve é a verdade da obra, isto é, a revelação de uma beleza que deverá ser “vista” e sentida de olhos fechados.

José Carlos Pereira