Obras
Sem título
sculpture


Data
2017
Técnica
Bronze com banho de ouro, madeira e vidro
Dimensões
168 x 110 x 60 cm
A prática de Miguel Branco é pós-moderna nos seus princípios de deslocamento e estranheza e nos seus mecanismos de apropriações de diferentes referências. Num percurso que pouco abandona a figuração, seja ela animal, humana ou fantástica, a obra de Branco é uma espécie de constante (re)construção das mais variadas representações da história, da natureza e da cultura humana.
Nesta obra sem título, Branco apresenta-nos uma austera e elegante vitrine de grande dimensão, em madeira e vidro, contendo duas taças de bronze banhadas a ouro equidistantes e, a um primeiro olhar, em tudo semelhantes. Apesar do aspeto contemporâneo, as taças estão dispostas como se de peças arqueológicas ou de peças ritualísticas se tratassem, com a vitrine a criar a ilusão de um aparato de museu, um espaço que preserva e sacraliza a arte. Existe por isso uma tensão entre a peça enquanto obra de arte e objeto de importância museológica e a peça enquanto instrumento que reflete sobre a ação contextualizadora e legitimadora do museu enquanto instituição. Num olhar mais atento verificamos que uma das taças é totalmente polida, e, portanto, totalmente refletora, ao passo que a outra apenas é polida por fora, sendo o seu interior dourado mais baço, pelo que ao invés de refletir, a concavidade desta taça absorve parcialmente a luz e distorce as imagens.
Tal como acontece frequentemente na obra de Branco que é resultado subtil de um minucioso e cuidado estudo da história da arte, esta peça foi desenhada de forma a poder ser vista e pensada de diferentes perspetivas, articulando espaços e tempos diferenciados (os dos museus e das galerias de arte e os das obras de arte e da história da arte), falando simultaneamente do presente e do passado, de si e do seu enquadramento.
Ana Fabíola Maurício
Nesta obra sem título, Branco apresenta-nos uma austera e elegante vitrine de grande dimensão, em madeira e vidro, contendo duas taças de bronze banhadas a ouro equidistantes e, a um primeiro olhar, em tudo semelhantes. Apesar do aspeto contemporâneo, as taças estão dispostas como se de peças arqueológicas ou de peças ritualísticas se tratassem, com a vitrine a criar a ilusão de um aparato de museu, um espaço que preserva e sacraliza a arte. Existe por isso uma tensão entre a peça enquanto obra de arte e objeto de importância museológica e a peça enquanto instrumento que reflete sobre a ação contextualizadora e legitimadora do museu enquanto instituição. Num olhar mais atento verificamos que uma das taças é totalmente polida, e, portanto, totalmente refletora, ao passo que a outra apenas é polida por fora, sendo o seu interior dourado mais baço, pelo que ao invés de refletir, a concavidade desta taça absorve parcialmente a luz e distorce as imagens.
Tal como acontece frequentemente na obra de Branco que é resultado subtil de um minucioso e cuidado estudo da história da arte, esta peça foi desenhada de forma a poder ser vista e pensada de diferentes perspetivas, articulando espaços e tempos diferenciados (os dos museus e das galerias de arte e os das obras de arte e da história da arte), falando simultaneamente do presente e do passado, de si e do seu enquadramento.
Ana Fabíola Maurício