Obras
Sem título (estudo)
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Data
c. 1910
Técnica
Tinta da China sobre papel
Dimensões
22 x 20 cm
Pouco tempo depois de chegar a Paris, em 1906, Amadeo de Sousa Cardoso abandona o seu projeto inicial de estudar arquitetura. Como alternativa, decide explorar a caricatura, género que já experimentara em Portugal, em desenhos avulsos de personagens com traços fisionómicos exagerados, rabiscados em cadernos e livros, ou em postais que envia à família e amigos. A prática da caricatura constituía um domínio de experimentação formal atrativo para os jovens artistas que, então, procuravam uma alternativa estética à produção de matriz académica, abrindo-se a novos modelos e tendências plásticas.
Neste desenho, ligado a um humorismo sediado na observação satírica e irónica da sociedade mundana, estão individualizadas duas figuras que se encontram também representadas, na mesma pose, num outro desenho pertencente à coleção moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, produzido em Paris e datado de janeiro 1910, no qual surgem várias personalidades caricaturadas e, ainda, uma auto-caricatura do próprio artista. As duas personagens não surgem identificadas, mas devido à relação desta obra com o desenho pertencente à FCG, é muito provável que tenham sido inspiradas em figuras reais.
A composição é marcada pelo jogo entre as linhas finas que conferem detalhe ao desenho e as manchas de cor escura que envolvem os espaços brancos, modelando com rigor as personagens. Verifica-se uma captação cuidada dos traços identificadores dos rostos - apesar da estilização gráfica e redução do desenho aos elementos básicos -, bem como a atenção dada à linha delineadora do perfil da figura da esquerda, cuja proeminente barriga é equilibrada, em termos compositivos, pelas costas curvadas do seu companheiro. O aspeto caricatural da cena é também realçado pela posição dos dois indivíduos, apoiados um no outro, e pelo posicionamento fletido das suas pernas em movimento.
Joana Baião
Neste desenho, ligado a um humorismo sediado na observação satírica e irónica da sociedade mundana, estão individualizadas duas figuras que se encontram também representadas, na mesma pose, num outro desenho pertencente à coleção moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, produzido em Paris e datado de janeiro 1910, no qual surgem várias personalidades caricaturadas e, ainda, uma auto-caricatura do próprio artista. As duas personagens não surgem identificadas, mas devido à relação desta obra com o desenho pertencente à FCG, é muito provável que tenham sido inspiradas em figuras reais.
A composição é marcada pelo jogo entre as linhas finas que conferem detalhe ao desenho e as manchas de cor escura que envolvem os espaços brancos, modelando com rigor as personagens. Verifica-se uma captação cuidada dos traços identificadores dos rostos - apesar da estilização gráfica e redução do desenho aos elementos básicos -, bem como a atenção dada à linha delineadora do perfil da figura da esquerda, cuja proeminente barriga é equilibrada, em termos compositivos, pelas costas curvadas do seu companheiro. O aspeto caricatural da cena é também realçado pela posição dos dois indivíduos, apoiados um no outro, e pelo posicionamento fletido das suas pernas em movimento.
Joana Baião