Depois de frequentar a Academia de Belas-Artes de Lisboa, em 1905, Amadeo de Souza-Cardoso (Manhufe, 1887 – Espinho, 1918) viajou para Paris, envergando, através da pintura e do desenho, na cultura vanguardista. Se nestes primeiros anos em Paris o seu atelier foi local de convívio dos artistas portugueses emigrados, a partir de 1909, a sua rede de contactos cosmopoliza-se. A aproximação aos grandes artistas da sua época é desde logo demonstrada pela amizade com Modigliani, com quem realiza uma exposição, em 1911. Esta contou com a presença de Picasso, Max Jacob, Apollinaire e, ao círculo do artista, juntar-se-iam ainda Constantin Brancusi, Alexander Archipenko, Sonia e Robert Delaunay, Walter Patch, entre outros. No mesmo ano, é representado na primeira exposição cubista relevante, no Salon des Indépendants, salão onde voltaria a expor em 1912 e 1914. Nestes mesmos anos, mostra também o seu trabalho no Salon d’Automne entre 1912 e 1914. Em 1912 destacam-se grandes trabalhos: o álbum XX Dessins e um manuscrito ilustrado a partir da Légende de Saint Julien l’Hospitalier de Flaubert. É nesta fase que se familiariza com a arte africana e com a estética dos Ballets Russes. O seu empenho em marcar presença fora do núcleo parisiense valeu-lhe a participação na Exposição Internacional de Arte Moderna Armory Show de 1913 (Nova Iorque, Boston e Chicago), ano em que expõe também na galeria Der Sturm em Berlim, a que se seguem outras exposições na Alemanha, mas também em Londres, Barcelona, Estocolmo e Oslo. Em 1914, devido ao eclodir da guerra, regressa a Manhufe e, impedido de regressar a Paris devido ao despoletar da Guerra, retoma contacto com o casal Delaunay. Convive também com Eduardo Viana e conhece Almada Negreiros, que o apresenta à geração futurista de Orpheu. Em 1916, realiza no Porto e em Lisboa uma mostra de 114 pinturas que designou como Abstraccionismo. Este período em Portugal constituiu uma fase de maturação e de realização de obras arrojadas, nas quais começou a explorar o pochoir e as colagens. A Gripe Espanhola que contrai em 1918 (da qual morreria no mesmo ano) impede-o de continuar a pintar, refugiando-se em Espinho. As suas últimas obras, sínteses de múltiplas referências – Cubismo, Futurismo, Expressionismo Alemão, Impressionismo, Abstracionismo, etc – convidam-nos a conjeturar para onde caminharia a sua obra, ficando para a história como um ícone do modernismo português. Encontra-se representado nas mais relevantes coleções nacionais e em várias coleções internacionais.
FMV, outubro 2020
FMV, outubro 2020